deixa eu fazer um parêntese,
pode alguém querer
tomar um cafezinho
enquanto eu conto uma piada:
falaram que os companheiros
comiam do mesmo grude,
lambiam a caçarola
cheirando o sexo de esmola,
tremiam no mesmo frio
da mesma noite assassina,
gemiam no mesmo açoite
da mesma nau da chacina,
falaram que um companheiro
esfaqueou o amigo do peito
e foi lavar as mãos
no botequim da esquina.
mas não vamos entrar em detalhes
de crimes passionais,
eu cá por dentro de mim
já trago uma dor tão grande
que nem cabe nos jornais,
e tenho plena certeza
que na casa dos amigos
os fuzis após o lanche
esperam a hora do arroto.
(Punhos da Serpente)
(Ilustração: Santiago Caruso)
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