O relógio Swatch que eu
levava no pulso, quando criança, no pátio
de um navio, talvez, no
Chile, segurando os cabelos com uma das mãos, para a fotografia.
Os mesmos cabelos e o
relógio que eu vejo agora, na volta de levar o lixo, antes de ligar para a
faxina,
antes de ver as mensagens e
fazer a lista para o Casamento.
Agora,
outros cabelos adentram a
sala sem que ninguém perceba, trazidos pelo vento ou na cabeça de alguém
ainda muito mais jovem
(mas ainda assim, com mesma
idade, mais ou menos) –
A melhor brincadeira
era a de índio
todos nas nossas cabanas
feitas de plástico
com arcos e flechas
de plástico.
Eu gostava de ti porque eras
ou parecias, em parte,
incapaz de machucar
alguém
(teoricamente)
incapaz
de machucar.
Mas todas as pessoas ou
coisas que parecem incapazes
são assim apenas
na superfície,
na fotografia.
Anos depois, eu olharia
diferente para essa
aparência
inofensiva.
(Ilustração : Pablo Picasso: Femme à la montre, 1932)
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