Dar nome aos gatos não é tarefa fácil nem fútil.
Muitas vezes quando digo que o gato deve ter
TRÊS NOMES DIFERENTES,
olham-me de novo, julgam-me biruta.
Mas assim é, por mais que estranhem e gozem.
Primeiro o nome corrente, de uso da família,
que pode ser Poetinha, Alípio ou Conceição.
Depois o escolhido de pessoas refinadas
(extravagantes ou mesmo sóbrias),
como Menelau, Polonaise ou Pixinguinha.
Por último o mais íntimo e solitário,
que ele mais necessita para manter o orgulho,
esticar os bigodes, enrodilhar-se na cadeira
ou pular o muro como num vôo retilíneo,
que pode ser Diadorim, Caracóia ou Ana Lívia Plurabelle,
nome que nenhum outro gato ostenta.
Mas além desses e acima de tudo e de todos
Há um nome especial a preferir
– e esse ninguém nunca saberá.
É o nome que nenhuma pesquisa pode descobrir,
e que só o próprio gato sabe,
e que nunca dirá a ninguém.
Assim
Se você vir um gato em profunda meditação,
Os olhos abertos mas cegos, as unhas em inocente repouso,
a razão é sempre a mesma:
sua mente está ocupada na contemplação de seu profundo
e inescrutável e singular NOME.
(Ilustração: Hiroaki Takahashi (Shotei) - chat blanc, 1924)
Nenhum comentário:
Postar um comentário