quinta-feira, 15 de junho de 2023

NASCIMENTO DO POEMA, de Dora Ferreira da Silva

 


  

É preciso que venha de longe

do vento mais antigo

ou da morte

é preciso que venha impreciso

inesperado como a rosa

ou como o riso

o poema inecessário.



É preciso que ferido de amor

entre pombos

ou nas mansas colinas

que o ódio afaga

ele venha

sob o látego da insônia

morto e preservado.



E então desperta

para o rito da forma

lúcida

tranquila:

senhor do duplo reino

coroado

de sóis e luas.




(Ilustração: Ferdinand Georg Waldmuller, 1845: The Love Letter)

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