sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

ODE À CASSANDRE / ODE A CASSANDRA, de Pierre de Ronsard

 


 



Mignonne, allons voir si la rose

Qui ce matin avait déclose

Sa robe de pourpre au soleil,

A point perdu, cette vêprée,

Lés plis de sa robe pourprée,

Et son teint au vôtre pareil.



Las,voyez comme en peu d’espace

Mignonne, elle a dessus la place

Las, las, ses beautés laissé choir!

O vraiment marâtre Nature.

Puisqu’une telle fleur ne dure

Que du matin jusques au soir.



Donc, si vous me croyez,Mignonne,

‘ Tandis que votre âge fleuronne

En sa plus verte nouveauté,

Cueillez, cueillez votre jeunesse:

Comme à cette fleur, la vieillesse

Fera ternir votre beauté.



Tradução de Andrei Cunha (2019):



Menina, vem ver se a rosa

Que abriu de manhã vaidosa

Ao sol seu vermelho vestido

Guardou numa tarde assim

As dobras da flor tão carmim

Como teu rosto – ou parecido.

Ai, Menina! olha que não!

Em pouco tempo, já está no chão.

Que madrasta essa Natureza,

Que da manhã até o sol se pôr

Não dure uma tão bela flor

E no chão acabe sua beleza.

Então, se me crês, ô Menina,

Enquanto tua tez não declina,

E inda verdes tens amores,

Colhe, e aproveita a meninice:

Pois como a rosa, a velhice

Fará murchar tuas flores.



Tradução de Mário Laranjeira (2004):



Querida, vamos ver se a rosa,

Que esta manhã abriu garbosa

Ao sol seu purpúreo vestido,

Não perdeu, da tarde ao calor,

De sua roupa a rubra cor,

E o aspecto ao vosso parecido.



Ah! Vede como em curto espaço,

Querida, caiu em pedaços,

Ah! ah! A beleza que tinha!

Ó mesmo madrasta Natura,

Pois que uma flor assim não dura

Senão da manhã à tardinha!



Então, se me dais fé, querida,

Enquanto a idade está florida

Em seu mais viçoso verdor,

Colhei, colhei a mocidade:

A velhice, como a esta flor,

Fará murchar vossa beldade.



Tradução de R. Magalhães Jr. (1972):



Vem, amor, vem ver se a rosa

Que ontem, fresca e perfumosa

Se abriu ao sol estival,

Não perdeu o viço ainda

E conserva, rubra e linda,

Cor à de teu rosto igual.



Oh, amor! Vê quão depressa

Fenecendo, a rosa cessa

De ser bela e ser louçã!

Como é madrasta a Natura,

Pois que tal flor jamais dura

Do entardecer à manhã!



Meu conselho é, pois, amor,

Que, enquanto na vida em flor,

Encantos possam sobrar-te

Colhe, colhe a mocidade,

Pois como à rosa a idade

Da beleza há de privar-te.



(Poetas Franceses de Renascença; seleção, apresentação e tradução de Mário Laranjeira)



(O livro de ouro da poesia da França; tradução de R. Magalhães Jr.)



(Ilustração: Claude Mellan (1598-1688)Pierre de Ronsard et Cassandre Salviat)

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