Мы живем, под собою не чуя страны,
Наши речи за десять шагов не слышны
А где хватит на полразговорца,
Там припомнят кремлёвского горца.
Его толстые пальцы, как черви, жирны,
А слова, как пудовые гири, верны,
Тараканьи смеются усища,
И сияют его голенища.
А вокруг него сброд тонкошеих вождей,
Он играет услугами полулюдей.
Кто свистит, кто мяучит, кто хнычет,
Он один лишь бабачит и тычет,
Как подкову, кует за указом указ:
Кому в пах, кому в лоб, кому в бровь, кому в глаз.
Что ни казнь у него - то малина
И широкая грудь осетина.
Ноябрь 1933
Tradução de Augusto de
Campos¹:
Vivemos sem sentir o chão nos pés,
A dez passos não se ouve a nossa voz.
Uma palavra a mais e o montanhez²
Do Kremlin vem: chegou a nossa vez.
Seus dedos grossos são vermes obesos.
Suas palavras caem como pesos.
Baratas, seus bigodes dão risotas;
Brilham como um espelho as suas botas.
Cercado de um magote subserviente,
Brinca de gato com essa subgente.
Um mia, outro assobia, um outro geme.
Somente ele troveja e tudo treme.
Forja decretos como ferraduras:
Nos olhos! Nos quadris! Nas dentaduras!
Frui as sentenças como framboesas.
O amigo Urso abraça suas presas.³
Notas
¹ Do livro “Poesia da
Recusa” (Perspectiva, 364 páginas), de Augusto de Campos. Edição de 2011.
Tradução direta do russo.
² Nota do Jornal Opção:
Augusto de Campos prefere “montanhez”, no lugar de montanhês, para rimar com
vez? É provável.
³ Nota de Augusto de Campos:
a tradução literal desta última linha equivale a: “O largo peito do ossétio”
(cidadão da Ossétia, da Geórgia, região de origem de Stálin). Variante literal:
“Um abraço de Ossétia às suas presas”.
Tradução de Lauro Machado
Coelho¹:
Vivemos sem sentir o chão em que pisamos.
A dez passos de nós, já não se ouve o que falamos.
Mas onde quer que haja meia-conversa que seja,
o montanhês do Krêmlin há de ficar sabendo dela.
Os dedos desse assassino de camponeses
são grossos como salsichões,
e as palavras caem de seus lábios pesadas como chumbo.
Seus bigodes de barata vibram
e o cano de suas botas é reluzente.
À sua volta, há um rebanho de líderes
de pescoço fino, homens pela metade, que o bajulam
e com quem ele brinca como se fossem animais de estimação.
Rosnam, ronronam, uivam cada vez
que ele fala com eles ou lhes aponta o dedo.
Um a um, forjam leis para que, depois,
ele os acerte com a ferradura na cabeça,
no olho, no baixo-ventre.
E cada vez que eles matam, isso é um pitéu
para aquele ossétio de pescoço grosso.
Nota
¹ O poema pode ser
encontrado no livro “Poesia Soviética”, seleção, tradução e notas de Lauro
Machado Coelho. Editora Algol, 654 páginas. O livro é de 2007. A tradução
também saiu na biografia de “Anna — A Voz da Rússia” (sobre Anna Akhmátova) escrita por Coelho e
publicada em 2008. Versão direta do russo.
Tradução de Nina Guerra e
Filipe Guerra¹:
Vivemos sem sentir o país sob os pés,
Nem a dez passos ouvimos o que se diz,
E quando chegamos enfim à meia fala
O montanheiro do Krémlin² lá vem à baila.
Dedos gordurosos como vérmina gorda,
As palavras certas como pesos de arroba.
Riem-se-lhe os bigodes de barata,
Reluzem-lhe os canos da bota alta.
À volta a escumalha — guias de fino pescoço —
Nas vénias da semigente ele brinca com gozo.
Um assobia, o outro geme, aquele mia,
Só ele trata por tu, escolhe companhia.
Como ferraduras, lei ‘trás de lei ele oferta,
Em cheio na virilha, olho e sobrolho e testa.
Cada morte que faz — crime malino
E o peitaço tem amplo, ossetino.
Notas
¹ “Guarda Minha Fala Para
Sempre”, de Óssip Mandelstam, Editora Assírio & Alvim, 237 páginas,
tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra. O livro saiu em Portugal em 1996.
Versão direta do russo.
² Na tradução portuguesa, no
lugar de Kremlin ou Krêmlin (como prefere Lauro Machado Coelho), escreve-se
“Krémlin” e “vénias”.
Tradução de Mauro Gama¹:
Surdos na terra que pisamos nós vivemos.²
A dez passos de nós, quem ouve o que dizemos?
O alpinista do Krêmlin eu ouço há meses:
É um assassino massacrando os camponeses.
Os dedos gordos como larvas mela
E, em chumbo, cai-lhe o verbo de sua goela.
Torto nos vê o bigode de barata
E a bota que no brilho se remata.
Em torno a choldra de pescoço ralo
E de semi-homens baba, em seu badalo.
Nitre, ronrona, gane
Se eles lhes palre, ou as mãos abane.
Um a um forjando leis, arremessadas
Ferraduras na testa, olho, beiradas.
E matar sempre é benfeito
Para esse osseta de peito.
Notas
¹ “De Mandelstam para
Stálin—Um Epígrama Trágico” (Record, 377 páginas, tradução de Mauro Gama).
Edição de 2009.
² O poema foi traduzido do
inglês por Mauro Gama, com revisão do poeta, tradutor e ensaísta Marco
Lucchesi.
Tradução de Mário Vilela e
Ibraíma Dafonte¹:
Vivemos sem sentir a terra debaixo dos pés.²
Falamos, e ninguém nos ouve a dez passos.
Mas, onde houver uma conversa, mesmo que sussurrada,
O embusteiro, assassino e mata-compônios do Kremlin será mencionado
Seus dedos, gordos como larvas, são untuosos.
Suas palavras, como pesos de chumbo, são finais.
Seu bigode de barata desdenha.
As bordas de suas botas brilham.
E, em volta dele, uma panelinha de líderes frouxos,
Apenas meio humanos, serve-lhe de brinquedo.
Um choraminga, outro arrulha, outro geme.
Só ele berra e aponta,
Lançando decretos como se fossem ferraduras,
Acertando uma virilha, uma cabeça, um olho…
Toda sentença de morte é doce
Para o osseto de peito largo.
Notas
¹ “Gulag — Uma História dos
Campos de Prisioneiros Soviéticos” (Ediouro, 749 páginas). Edição de 2004.
² Nota dos tradutores Mário
Vilela e Ibraíma Dafonte: “Existem várias versões deste poema em russo. A aqui
apresentada baseou-se livremente em uma encontrada em E. Yevtushenko, ed.,
Strofi Veka”. Versão feita a partir do inglês.
(Ilustração: Victor
Puzyrkov - Iosif Stalin on the Cruiser Molotov)
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