segunda-feira, 10 de janeiro de 2022
UMA GUEIXA APRENDIZ DE QUINZE ANOS, NUA E ASSUSTADA, de Arthur Golen
Por fim me descobri sozinha no átrio de entrada à luz desvanecente da tardinha. Tomei a liberdade de me ir ajoelhar na sala de tatami próxima, onde fiquei a olhar para os campos através de uma janela com vidros.
Dez ou quinze minutos passaram; por fim o Barão entrou no átrio com grandes passadas. Senti-me a ficar agoniada com preocupação no momento em que o vi, porque não usava nada mais do que um robe de algodão. Tinha uma toalha numa das mãos, que esfregava de encontro aos longos pelos pretos na sua cara que era suposto serem uma barba. Claramente, tinha acabado de sair do banho. Levantei-me e fiz-lhe uma vénia.
- Sayuri, sabes que tonto sou! - disse-me. - Bebi demais. - Esta parte era decerto verdade. Esqueci-me de que estavas à minha espera! Espero que me perdoes quando vires o que guardei para ti.
O Barão foi pelo átrio fora para o interior da casa, contando que eu o seguisse. Mas eu fiquei onde estava, pensando no que Mameha me tinha dito, que uma aprendiza a ponto de ter a sua mizuage era como um prato servido numa mesa.
O Barão parou.
- Vem comigo! - disse-me ele.
- Oh, Barão. Na verdade não devo. Permita-me que espere aqui.
- Tenho uma coisa que gostava de te dar. Vem até aos meus aposentos e sentas-te lá um minuto, e não sejas uma rapariga tonta!
- Mas, Barão - respondi -, não posso deixar de ser uma rapariga tonta, porque é isso que eu sou!
- Amanhã regressas aos olhos observadores de Mameha, eh? Mas aqui não tens ninguém para te vigiar.
Se eu tivesse tido o mínimo bom senso naquele momento, teria agradecido ao Barão por me ter convidado para a sua bela festa e ter-lhe-ia dito como lamentava ter que me tornar pesada por lhe pedir o uso do carro para me levar de regresso à estalagem. Mas tudo tinha uma tal qualidade de sonho... Acho que tinha entrado em estado de choque. Tudo o que sabia ao certo era o medo que sentia.
- Vem comigo enquanto me visto - disse o Barão. - Bebeste muito saqué esta tarde?
Passou um longo momento. Eu estava muito consciente de que a minha cara se sentia como se não tivesse qualquer expressão, mas me estivesse apenas pendurada na cabeça.
- Não, senhor - consegui dizer por fim.
- Calculei que não beberias. Vou dar-te tanto quanto quiseres. Anda daí.
- Barão - disse eu -, por favor, estão à minha espera na estalagem.
- À tua espera? Quem é que está à tua espera?
Não respondi a isto.
- Já perguntei, quem está à tua espera? Não sei porque é que tens de te comportar desta maneira. Tenho uma coisa para te dar. Preferes que eu ta vá buscar e traga aqui?
- Lamento muito - disse eu.
O Barão ficou especado a olhar para mim.
- Espera aqui - disse por fim, e foi a andar até ao interior da casa. Um curto momento depois emergiu trazendo uma coisa chata, embrulhada em papel de linho. Não tive de olhar de perto para perceber que era um quimono.
- Vá, toma - disse-me - dado que insistes em ser uma rapariga tonta, eu fui buscar o teu presente. Sentes-te melhor assim?
Disse ao Barão mais uma vez que lamentava muito.
- Vi quanto admiraste este vestido no outro dia. Gostaria que o tivesses - disse ele.
O Barão colocou o embrulho em cima da mesa e desatou os fios para o abrir. Pensei que o quimono seria o que mostrava a paisagem de Kobe; e para dizer a verdade, sentia-me tão preocupada quanto esperançosa, porque não fazia ideia do que faria com uma coisa tão magnífica, ou como iria explicar a Mameha que o Barão mo tinha dado. Mas o que vi em vez dele, quando o Barão abriu o embrulho, foi um magnífico tecido escuro com fios lacados e bordado em prata. Ele pegou no vestido e ergueu-o pelos ombros. Era um quimono que pertencia a um museu - feito por volta de 1860, como me disse o Barão, para a sobrinha do último Shogun, Tokugawa Yoshinobu. O padrão do vestido era de pássaros de prata a voar contra um céu nocturno, com uma paisagem misteriosa de árvores escuras e pedras a erguerem-se da bainha.
- Tens que vir comigo e experimentá-lo - disse-me. - Vá, agora não sejas uma rapariga tonta! Tenho muita experiência em atar o obi com as minhas próprias mãos. Ponho-te de volta no teu quimono de maneira que ninguém dê por nada.
Teria alegremente trocado o vestido que o Barão me estava a oferecer por alguma maneira de me escapulir daquela situação. Mas ele era um homem com tanta autoridade que nem mesmo Mameha lhe podia desobedecer. Se ela não tinha maneira para lhe recusar os seus desejos, como poderia eu fazê-lo? Podia sentir que ele estava a perder a paciência; os Céus sabem que ele tinha sido bondoso nos meses antes da minha iniciação, permitindo-me que o servisse enquanto almoçava e permitindo que Mameha me levasse à festa na sua propriedade de Quioto. E aqui estava ele sendo mais uma vez bondoso, oferecendo-me um quimono extraordinário.
Calculo que por fim cheguei à conclusão de que não tinha alternativa senão obedecer-lhe e pagar as consequências, quaisquer que elas fossem. Baixei os olhos para os tapetes com vergonha; e neste estado de vergonha e meio de sonho em que me tinha andado a sentir até ali, tomei consciência de o Barão me ter pegado na mão e guiado pelos corredores até aos fundos da casa. Um criado entrou no átrio a dado momento, mas fez uma vénia e recuou no instante em que nos viu. O Barão não disse uma palavra, mas foi-me conduzindo até que chegámos a uma espaçosa sala de tatami, com uma parede forrada de espelhos. Era a sua sala de vestir. Ao longo da parede oposta, havia armários com as portas todas fechadas.
As mãos tremiam-me de medo, mas se o Barão deu por isso não fez comentários. Ficou diante de mim em frente aos espelhos e levantou a minha mão até aos lábios dele; pensei que a ia beijar, mas limitou-se a segurar-me as costas das mãos de encontro às cerdas da sua cara e fez uma coisa que achei estranha; ergueu-me a manga acima do pulso e inspirou o cheiro da minha pele. A barba dele fez-me cócegas no braço, mas de alguma maneira não o sentia. Parecia que não estava a sentir coisa alguma; era como se estivesse enterrada debaixo de camadas de medo, e confusão, e terror... E então o Barão acordou-me do meu estado de choque passando para trás de mim e esticando os braços à volta do meu peito para desatar o meu obijime. Isto era o cordão que segurava o meu obi no lugar.
Experimentei um momento de pânico, agora que sabia que o Barão tencionava mesmo despir-me. Tentei dizer qualquer coisa, mas a minha boca moveu-se de uma maneira tão desastrada que não a conseguia controlar; e de qualquer maneira, o Barão apenas fazia barulhos para me sossegar. Continuei a tentar impedi-lo com as mãos, mas ele empurrou-mas e por fim conseguiu retirar-me o obijime. Depois disto deu um passo atrás e lutou durante um grande bocado de tempo com o nó do obi entre as minhas espáduas. Eu implorava-lhe para não mo tirar - embora a minha garganta estivesse tão seca que das várias vezes em que tentei falar não saía nada - mas ele não me ouvia e em breve começou a desatar o longo obi, enrolando e desenrolando os braços à volta da minha cintura. Vi o lenço do Director desalojar-se do tecido e flutuar até ao chão. Num instante o Barão deixou o obi cair numa pilha sobre o solo, e depois desatou-me o datejime - o cinto por baixo dele. Senti a sensação agoniante do quimono se me soltar de volta da cintura. Tentei mantê-lo fechado com os braços, mas o Barão afastou-mos. Eu já não suportava mais olhar para o espelho. A última coisa de que me recordo antes de fechar os olhos foi o pesado vestido ser erguido de cima dos meus ombros com um roçagar de tecido.
O Barão parecia ter terminado o que se propusera fazer; ou, pelo menos, não avançou mais por uns momentos. Senti-lhe as mãos na cintura, a acariciar-me o tecido da combinação. Quando por fim abri os olhos de novo, ainda estava atrás de mim, inspirando o perfume do meu cabelo e do meu pescoço. Tinha os olhos fixos no espelho - fixos, parecia-me, no cinto que me mantinha a combinação fechada. De cada vez que os dedos dele se moviam, eu tentava com o poder da minha mente mantê-los afastados, mas logo de seguida recomeçavam a rastejar como aranhas através do meu umbigo, e momentos depois tinham-se embaraçado no cinto e começado a puxar. Tentei obrigá-lo a parar várias vezes, mas o Barão afastava-me as mãos como tinha feito antes. Por fim o cinto desatou-se; o Barão deixou-o escorregar dos dedos até cair no chão. Eu tinha as pernas a tremer, e a sala não me parecia mais do que um borrão no momento em que ele pegou nas bainhas da minha combinação e começou a abri-la. Não consegui impedir-me de lhe agarrar nas mãos mais uma vez.
- Não estejas tão preocupada, Sayuri! - sussurrou-me o Barão. - Por amor de Deus, não te vou fazer nada que não devesse. Só quero olhar-te, não compreendes? Não há nada de mal nisso. Qualquer homem faria o mesmo.
Uma cerda brilhante da cara dele fez-me cócegas na orelha enquanto me dizia isto, pelo que tive que virar a cara para um dos lados. Penso que o deve ter interpretado como uma espécie de consentimento, porque agora as mãos dele começaram a mover-se com maior urgência. Ele abriu-me a roupa. Eu senti-lhe os dedos nas minhas costelas, quase a fazerem-me cócegas enquanto lutava para desatar as fitas que me mantinham a combinação fechada. Um instante depois tinha-o conseguido. Eu não conseguia suportar o pensamento do que o Barão poderia estar a ver; de modo que, apesar de ter a cara virada, forcei os olhos a espreitarem para o espelho. A minha combinação estava aberta, expondo uma longa tira de pele pelo centro do meu peito abaixo.
Entretanto, as mãos do Barão tinham-se mudado para as minhas ancas, onde se atarefavam no meu koshimaki. No princípio daquele dia, quando tinha enrolado o koshimaki várias vezes em torno de mim, tinha-o apertado mais à cintura do que provavelmente seria preciso. O Barão estava a ter problemas para descobrir a bainha, mas depois de vários puxões libertou o tecido, de maneira que com um esticão longo conseguiu retirá-lo a todo o comprimento de debaixo da minha combinação. Enquanto a seda me deslizava sobre a pele, ouvi um barulho a sair-me da garganta, uma coisa parecida com um soluço. As minhas mãos tentaram agarrar o koshimaki, mas o Barão retirou-o do meu alcance e deitou-o para o chão. Depois, tão lentamente como um homem poderia destapar uma criança adormecida, abriu-me a combinação num gesto lento e com a respiração suspensa, como se estivesse a descobrir qualquer coisa magnífica. Senti um ardor na garganta que me dizia que estava na eminência de chorar; mas não conseguia suportar o pensamento de que o Barão estivesse a ver a minha nudez e a ver-me chorar ao mesmo tempo. Aguentei as lágrimas nem sei como, mesmo à beira das pálpebras, e observei tão intensamente o espelho que por um grande bocado senti como se o tempo tivesse parado. Certamente que nunca me tinha visto assim tão completamente nua. Era verdade que ainda usava as meias abotoadas nos pés; mas sentia-me mais exposta agora com as bainhas do meu vestido assim abertas de par em par do que alguma vez me sentira mesmo numa casa de banhos quando completamente despida. Observei os olhos do Barão a deterem-se aqui e ali no meu reflexo no espelho. Primeiro ainda me abriu mais a roupa para me observar o contorno da cintura. Depois baixou os olhos para a escuridão que florescera em mim durante os anos desde que viera para Quioto. Os olhos ficaram-lhe ali um longo bocado; mas depois ergueram-se lentamente, passando por cima do meu estômago, ao longo das costelas, para os dois círculos cor de ameixa - primeiro de um lado, depois do outro. Depois o Barão retirou uma das mãos, de modo que a minha combinação pousou sobre mim num dos lados. O que ele fazia com essa mão, não posso dizer, mas não voltei a vê-Ia. A dada altura senti um momento de pânico quando vi um ombro nu sair-lhe do roupão. Não sei o que ele estava a fazer - e mesmo que provavelmente pudesse agora calcular com acuidade, prefiro nem sequer pensar nisso. Tudo o que sei é que me tornei muito consciente da respiração dele a aquecer-me o pescoço. Depois disso, não vi nada mais. O espelho tornou-se um borrão de prata; eu já não conseguia mais suster as lágrimas.
A dada altura a respiração do Barão acalmou outra vez. Eu tinha a pele quente e quase húmida de medo, de modo que quando me libertou a combinação por fim e a deixou cair, senti o sopro de ar contra o meu flanco quase como uma brisa. Em breve estava sozinha na sala; o Barão tinha saído sem eu sequer me aperceber disso. Agora que se tinha ido embora, apressei-me a vestir-me com tal desespero que enquanto me ajoelhava no chão para apanhar as minhas roupas, não parava de ver na minha mente a imagem de uma criança esfomeada a esgravatar para apanhar restos de comida.
Vesti-me a seguir o melhor que pude, com as mãos a tremer. Mas até que recebesse ajuda, não podia ir mais longe do que fechar a combinação e apertá-la com o cinto. Esperei diante do espelho, olhando com alguma preocupação para a maquilhagem esborratada na minha cara. Estava preparada para esperar ali uma hora inteira se fosse preciso. Mas apenas alguns minutos passaram antes que o Barão regressasse com o cinto do roupão bem apertado à volta da sua barriga gorducha. Ajudou-me a vestir o quimono sem uma palavra, e apertou-mo com o datejime tal como o Sr. Itchoda teria feito. Quando ele segurava já o meu grande e longo obi nos braços, medindo-o em laçadas enquanto se preparava para o atar em torno de mim, comecei a experimentar um sentimento terrível. A princípio não conseguia perceber o que era; mas fez o seu caminho até mim tal como uma nódoa é absorvida por um pano, e em breve percebi. Era o sentimento de que tinha feito uma coisa terrivelmente errada. Não queria chorar diante do Barão, mas não o podia evitar - e de qualquer maneira, ele não tinha olhado para mim nos olhos desde que regressara do quarto. Tentei imaginar que eu era apenas uma casa debaixo de chuva com a água a lavar a minha fachada. Mas o Barão deve ter visto, porque deixou a sala e regressou um momento depois com um lenço com o monograma dele bordado. Mandou que eu o guardasse, mas depois de o ter usado, deixei-lho ali em cima de uma mesa.
Em breve me conduziu até à frente da casa e foi-se embora sem dizer uma palavra. Logo a seguir veio um criado, trazendo o quimono antigo embrulhado de novo em papel de linho. Ofereceu-mo com uma vénia e depois acompanhou-me até ao automóvel do Barão. Chorei em silêncio no assento traseiro do carro o caminho todo até à estalagem, mas o condutor fingiu não dar por isso. Eu já não estava a chorar pelo que me tinha acontecido a mim. Tinha em mente uma coisa muito mais terrível nomeadamente, o que iria acontecer quando o Sr. Itchoda visse a minha maquilhagem esborratada, e depois me ajudasse a despir e visse o nó mal dado no meu obi, e depois abrisse o embrulho e visse o presente caríssimo que eu tinha recebido. Antes de sair do carro limpei a cara com o lenço do Director, mas pouco me adiantou. O Sr. Itchoda lançou-me uma olhadela e depois coçou o queixo como se tivesse compreendido tudo o que me acontecera. Enquanto estava a desatar-me o obi no quarto de cima, ele disse:
- O Barão despiu-te?
- Lamento muito - disse eu.
- Ele despiu-te e ficou a olhar para ti no espelho. Mas não gozou contigo. Ele não te tocou, nem se deitou em cima de ti, pois não?
-Não, senhor.
- Então está tudo bem. - disse o Sr. Itchoda, olhando em frente a direito. Nem mais uma palavra passou entre nós.
*
Não direi que as minhas emoções já se tinham acalmado no momento em que o comboio chegou à estação de Quioto na manhã seguinte. Apesar de tudo, quando se deixa cair uma pedra num lago, a água continua a tremer mesmo depois de a pedra ter tocado no fundo. Mas quando desci as escadas de madeira que nos faziam abandonar a plataforma, com o Sr. Itchoda um passo atrás de mim, tive um outro choque que por um momento me fez esquecer tudo o resto.
Ali num caixilho com um vidro estava o cartaz para as Danças da Velha Capital daquela época, e parei para lhe dar uma olhadela. Faltavam apenas duas semanas para o acontecimento. O cartaz tinha sido distribuído apenas no dia anterior, provavelmente enquanto eu andava a passear à volta da propriedade do Barão à espera de encontrar o Director. A dança tem um tema diferente todos os anos, tal como «Cores das Quatro Estações em Quioto», ou «Lugares Famosos dos Contos do Heike». Este ano o tema era «A Luz Brilhante do Sol da Manhã». O cartaz, que evidentemente era desenhado por Uchida Kosaburo - que tinha criado praticamente todos os cartazes desde 1919 - mostrava uma aprendiza de gueixa com um adorável quimono laranja e verde, de pé sobre uma ponte de madeira arqueada. Eu estava exausta depois da minha longa viagem e tinha dormido mal no comboio; por isso fiquei ali por um bocado diante do cartaz numa espécie de encantamento, a absorver os belos verdes e dourados do fundo antes de dar atenção à rapariga de quimono. Ela olhava directamente para a luz brilhante do Sol a nascer, e os olhos dela eram de um espantoso azul acinzentado. Tive que me agarrar ao corrimão para me segurar. Era eu a rapariga que Uchida tinha desenhado naquela ponte!
No caminho de regresso da Estação dos comboios, o Sr. Itchoda apontou-me todos os cartazes por que passámos, e até pediu ao condutor do riquexó para sair do caminho a fim de que pudéssemos ver uma parede cheia deles no velho edifício dos Armazéns Daimaru. Vendo-me a mim ali por toda a cidade, desta maneira, não era assim tão excitante como eu poderia imaginar; eu continuava a pensar na pobre rapariga ali do cartaz de pé diante de um espelho enquanto o obi dela era desatado por um homem mais velho. De qualquer maneira, esperava ouvir todo o tipo de cumprimentos no decurso dos dias seguintes, mas em breve iria aprender que uma honra como esta nunca chega sem o seu preço. A partir do momento em que Mameha conseguira que eu tivesse um papel nas danças sazonais, tinha ouvido um sem número de comentários desagradáveis a meu respeito. Depois do cartaz, as coisas só pioraram. Na manhã seguinte, por exemplo, uma jovem aprendiza que até fora amigável na semana anterior agora desviara a cara quando lhe fiz uma vénia para a cumprimentar.
Quanto a Mameha, fui visitá-la no apartamento dela, onde estava a convalescer, e descobri que se sentia tão orgulhosa como se tivesse sido ela própria a figura do cartaz. Decerto que não estava contente por eu ter feito a viagem até Hakone, mas parecia tão devotada ao meu êxito como sempre estranhamente, talvez ainda mais. Durante um momento fiquei preocupada que ela pudesse pensar que o meu encontro horrível com o Barão fosse uma espécie de traição a ela. Calculava que o Sr. Itchoda lhe devia ter contado tudo... mas se o fez, ela nunca levantou o assunto entre nós. E eu também não.
(Memórias de uma gueixa; tradução de Helena Barbas; edição portuguesa)
(Ilustração: James Doherty - geisha in orange kimono)
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