Um poema para levar no bolso direito da calça
junto à bala de menta e dinheiro da passagem do ônibus
Um poema roto
pra ser lido para os infinitos mendigos postos à sarjeta
Um poema escrito em folha de caderno com letra feia e caneta vermelha
Um poema que faça a professora de português me olhar com asco
e as palavras talhadas no papel
como escrituras na carne (feitas à faca)
Um poema que faça teus olhos castanhos brilharem e o céu se abrir
Um poema que te diga que vá e tente que nada é certo (exceto os erros) o resto é incerto como as rimas nulas que aqui deixo.
Um poema que funcione como um soco na cara ou uma chuva no verão
Um poema desses, que eu sempre escrevo, e logo deixo de canto, mofando à imensidão.
Um poema desses, de amor, falando do teu púbis
e dos teus sinais e sardas na face e da marca de infância nas tuas coxas.
Um poema feio.
Um poema que faça teu peito sangrar e tua alma rugir o eco indefinido de todos os amantes (desde que o mundo é mundo).
(Derivantes e Delirantes)
(Ilustração: Isa Amalee the writer – 2012)
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