É tão meiga, tão fagueira,
Minha lua brasileira;
É tão doce, e feiticeira,
Quando airosa vai nos céus;
Quando sobre almos palmares,
Ou sobre a face dos mares,
Fixa, nívea, seus olhares,
Qu'enfeitiçam os olhos meus;
Quando traça na campina
Larga fita diamantina;
Quando sobre a flor marina,
Esparge seu níveo albor;
Quando manda brandamente
Sobre a campina virente,
Seu fulgir alvinitente,
O seu mágico esplendor;
Quando sobre a fina areia,
Que a onda beijar anseia
Molemente ela passeia,
Desdobrando alvo lençol;
Quando ao fim da tarde amena
Ressurge pura e serena,
Disputando nessa cena,
Primores co'o rubro sol;
Oh! eu sinto então meu peito,
A tanto encanto sujeito,
Tão comovido, e desfeito,
Por um sublime sentir,
Que dos ares n'amplidão,
Vagueia a imaginação,
Qual se me fora condão,
Outros mundos descobrir!
Podem outros seus encantos
Ver também, beber seus prantos,
Por seus vales, e recantos,
Por suas veigas, em flor;
Podem vê-la sobre os montes,
Trepando nos horizontes,
A retratar-se nas fontes,
C'roada de níveo albor;
Lá n'outros mundos; ─ mas, bela
Assim branca, assim singela,
Como pálida donzela,
Que geme na solidão;
Assim pura, acetinada,
Como flor na madrugada
Pelo rocio beijada,
Com mimo, com devoção;
Assim virgem na frescura,
Com tão maga formosura,
Percorrendo essa planura
De nossos formosos céus,
Isso não: Assim ninguém
Mimosa, leda, inocente,
Assim formosa, indolente,
Permitiu-nos vê-la Deus!
Quem não ama vê-la assim,
C'a candidez do jasmim,
Espargindo amor sem fim,
Na terra de Santa Cruz!
Quem não ama entusiasmado
Da noite o astro nevado,
Que, co'o rosto prateado,
Tão meigamente seduz!?!
Quem não sente uma saudade,
Vendo a lua em fresca tarde,
Branca ─ em plena soledade,
Vagar nos campos dos céus!
Quem não gera com fervor,
No peito em que ergue a dor,
Um hino sacro de amor,
Um hino eterno ao seu Deus!?...
Eu por mim amo-te, oh bela,
Que semelhas a donzela,
Com roupas de branca tela,
Com traços de fino albor.
Que vai pura aos pés do altar
Por muito saber amar,
Ao terno amado jurar,
Lealdade ─ fé ─ e amor.
Amo ver-te assim fagueira,
Minha lua brasileira,
Qual menina lisonjeira,
Que promete, e foge e ri;
E depois, inda voltando,
Vem com beijinhos pagando,
Aquele a quem se furtando,
De novo a chamara a si.
Assim, lua, teus encantos
Inspiram mimosos cantos:
Chora sobre mim teus prantos,
Vertidos na solidão!
Tens em mim, lua querida,
Uma amiga enternecida,
Que aninha n'alma sentida
Muita dor ─ muita aflição.
Só teus raios prateados,
Teus inocentes agrados,
Teus suspiros magoados,
Modificam tanta dor.
Vem pois com tuas carícias
Infundir brandas delícias,
E com suaves blandícias
Entusiasmar-me de amor.
(*) Publicado originalmente no "Semanário Maranhense", 1/3/1868, ano I, número 27, páginas 7 (segunda e terceira colunas) e 8 (primeira coluna).
(Ilustração: Inês Peres - Lua cheia)
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