quinta-feira, 7 de agosto de 2014
TIRA-TEIMA, de Bernardo Vilhena
Tire a faca do peito
e o medo dos olhos
Ponha uns óculos escuros
e saia por aí. Dando
bandeira
Tire o nó da garganta
que a palavra corre fácil
sem desculpas nem
contornos
Direta: do diafragma ao
céu da boca
Tire o trinco da porta
liberte a corrente de ar
Deixe os bons ventos
levantarem a poeira
levando o cisco ao olho
grande
Tire a sorte na esquina
na primeira cigana ou no
velho realejo
Leia o horóscopo e olhe o
céu
lembre-se das estrelas e
da estrada
Tire o corpo da reta
e o cu da seringa
que malandro é você, rapaz
o lado bom da faca é o
cabo
Tire a mulher mais bonita
pra dançar e dance
Dance olhando dentro dos
olhos
até que ela morra de
vergonha
Tire o revólver e atire
a primeira pedra
a última palavra
a praga e a sorte
a peste, ou o vírus?
(Ilustração: Dalí -
Nature Morte Vivante - Still Life - Fast Moving)
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