quinta-feira, 26 de junho de 2014

SONETO DA AUSENTE, de Cassiano Ricardo









É impossível que na furtiva claridade

que te visita sem estrela nem lua,

não percebas o reflexo da lâmpada

com que te procuro pelas ruas da noite.




É impossível que, quando choras, não vejas

que uma de tuas lágrimas é minha.

É impossível que, com o teu corpo de água jovem,

não adivinhes toda a minha sede.




É impossível não sintas que a rosa

desfolhada a teus pés, ainda há um minuto,

foi jogada por mim, com a mão do vento.




É impossível não saibas que o pássaro,

caído em teu quarto por um vão da janela,

era um recado do meu pensamento!





(Um Dia Depois do Outro)






(Ilustração: Martin Eder - ou son les queves)




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