sexta-feira, 13 de agosto de 2010

À NOITE, de Francisca Júlia









Eis-me a pensar, enquanto a noite envolve a terra,

Olhos fitos no vácuo, a amiga pena em pouso,

Eis-me, pois a pensar... De antro em antro, de serra

Em serra, ecoa, longo, um requiem doloroso.



No alto uma estrela triste as pálpebra descerra,

Lançando, noite dentro, o claro olhar piedoso.

A alma das sombras dorme; e pelos ares erra

Um mórbido langor de calma e de repouso...



Em noite assim, de repouso e de calma,

É que a alma vive e a dor exulta, ambas unidas,

A alma cheia de dor, a dor cheia de alma...



É que a alma se abandona ao sabor dos enganos,

Antegozando já quimeras pressentidas

Que mais tarde hão de vir com o decorrer dos anos.





(Ilustração: Kristyna Milde - Batsheba After Willem Drost)

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