quinta-feira, 17 de maio de 2018

ROMANCE, de Mário Faustino








Para as Festas da Agonia

Vi-te chegar, como havia

Sonhado já que chegasses:

Vinha teu vulto tão belo

Em teu cavalo amarelo,

Anjo meu, que, se me amasses,

Em teu cavalo eu partira

Sem saudade, pena, ou ira;

Teu cavalo, que amarraras

Ao tronco de minha glória

E pastava-me a memória,

Feno de ouro, gramas raras.

Era tão cálido o peito

Angélico, onde meu leito

Me deixaste então fazer,

Que pude esquecer a cor

Dos olhos da Vida e a dor

Que o Sono vinha trazer.

Tão celeste foi a Festa,

Tão fino o Anjo, e a Besta

Onde montei tão serena,

Que posso, Damas, dizer-vos

E a vós, Senhores, tão servos

De outra Festa mais terrena —



Não morri de mala sorte,

Morri de amor pela Morte.



(O Homem e sua Hora)

(Ilustgração: William-Adolphe Bouguereau - égalité devant la mort)




Nenhum comentário:

Postar um comentário