quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A UMA AUSÊNCIA, de Francisco Rodrigues Lobo







Sinto-me, sem sentir todo abrasado

No rigoroso fogo que me alenta;

O mal que me consome me sustenta,

O bem que entretém me dá cuidado.



Ando sem me mover, falo calado,

O que mais perto vejo se me ausenta,

E o que estou sem ver mais me atormenta;

Alegro-me de ver atormentado.



Choro no mesmo ponto em que me rio,

No mor risco me anima a confiança,

Do que menos se espera estou certo.



Mas, se de confiado desconfio,

É porque, entre os receios da mudança,

Ando perdido em mim como em deserto.






(Ilustração: Edward Coley Burne Jones – Lamentation)




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