sábado, 12 de março de 2016

O AMOR, de Eugénio de Andrade








Estou a amar-te como o frio

corta os lábios.



A arrancar a raiz

ao mais diminuto dos rios.



A inundar-te de facas,

de saliva esperma lume.



Estou a rodear de agulhas

a boca mais vulnerável.



A marcar sobre os teus flancos

itinerários da espuma.



Assim é o amor: mortal e navegável.






(Ilustração: Bruno Schmeltz)



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