sábado, 27 de setembro de 2014
TRÊS PÃEZINHOS, de Gabriel Mallet Meissner
Júlia saiu para comprar
pão na padaria. Chegando lá, pediu:
- Três pãezinhos, por
favor.
- O que te faz pensar que
eu te venderia três pãezinhos?
Estupefata, Julia
respondeu:
- Hã?! Como assim?!
Calma e pretensiosamente,
ele perguntou:
- Ora, por que eu te
venderia três pãezinhos?
- É a sua função!
- Quem disse?
- Eu não vou ficar aqui
discutindo com você! Me dá três pãezinhos logo!
- Eu não dou nada, eu
vendo.
- Então me vende, porra!
- Primeiro: olhe o
palavreado. Segundo: não vou te vender três pãezinhos. Quatro, talvez. Ou
dois. Mas não três.
- Eu não quero nem quatro,
nem dois pãezinhos! Eu quero três!
- Não vou vender.
- Chama o teu chefe!
- Tsc!... não vai adiantar
nada.
- CHAMA O TEU CHEFE!!!
- A senhora não precisa
ser mal-educada! Mais respeito, por favor!
- CHAMA A PORRA DO TEU
CHEFE!!!
- Tá bom, tá bom... O, Zé!
Chama o chefe!
Logo, o chefe entra:
- Quié?!
- Você é o chefe desta
padaria?
- Sou.
- Ele se nega a me vender
três pãezinhos!
- E o que te faz pensar
que ele te venderia três pãezinhos?
- Como?!
- Eu fui bem claro. O que
te faz pensar que ele te venderia três pãezinhos?
Exasperada, Julia fala:
- Eu não acredito no que
estou ouvindo...
- Eu falei pra ela, chefe.
Posso vender quatro ou dois pãezinhos. Ou qualquer outra quantidade, menos
três... nove também não.
- Faz muito bem. Merece
até um aumento.
- Eu quero os meus pães!
O chefe retruca:
- Quem foi que lhe disse
que estes pães são teus?!
Júlia não responde nada.
- Heim? Quem foi?
Ela permanece calada.
- Responda! Manda o chefe.
Silêncio.
- Responda! Imita o
padeiro.
Nada.
- RESPONDA! Falam os dois.
- Eu não quero responder!
Eu só quero três pãezinhos!
E levantando as mãos para
cima ela pergunta:
- Deus, o que foi que eu
fiz?
- Não meta Deus na
história, diz o padeiro.
- Herege! Sentencia o
chefe.
- Mas eu só...
- Herege! Repetem os dois.
- Eu...
- Herege! Repetem mais uma
vez.
- É que...
- Herege!
- Por favor...
- Olha, eu já estou
cansado de te chamar de herege. Quer calar a boca, por favor? Diz o chefe.
Júlia olha para o chão,
desconsolada e com lágrimas nos olhos.
Está à beira de um ataque
de nervos. Neste estado, sai para a rua, senta na calçada e começa a olhar o
vazio, extremamente cansada. Depois de alguns instantes, um senhor
sai da padaria com um saco de pão nas mãos.
Ela pergunta:
- Quantos pães o senhor
comprou?
- Três.
Júlia começa a chorar
desesperadamente.
(Ilustração: Gianni
Strino)
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