quarta-feira, 24 de julho de 2013

LES AVEUGLES / OS CEGOS, Charles Baudelaire





Contemple-les, mon-âme; ils sont vraiment affreux!

Pareils aux mannequins, vaguement ridicules

Terribles, singuliers comme les sonnambules;

Dardant on ne sait où leurs globes ténébreux.




Leurs yeux, d'où la divine étincelle est partie,

Comme s'ils regardaient au loin, restent levés

Au ciel; on ne les voit jamais vers les pavés

Pencher rêveusement leur tête appesantie.




Ils traversent ainsi le noir illimité,

Ce frère du silence eternel. O cité!

Pendant qu'autour de nous tu chantes, ris et beugles,




Éprise du plaisir jusqu'à l'atrocité,

Vois! je me trâine aussi! Mais, plus qu'eux hébété

Je dis: Que cherchent-ils au Ciel, tous ces aveugles?




Tradução de Ivan Junqueira:



Contempla-os, ó minha alma; eles são pavorosos!

Iguais aos manequins, grotescos, singulares,

Sonâmbulos, talvez, terríveis se os olhares,

Lançando não sei de onde os globos tenebrosos.




Suas pupilas, onde ardeu a luz divina,

Como se olhassem à distância, estão fincadas

No céu; e não se vê jamais sobre as calçadas

Se um deles a sonhar sua cabeça inclina.




Cruzam assim o eterno escuro que os invade,

Esse irmão do silêncio infinito. Ó cidade!

Enquanto em torno cantas, ris e uivas ao léu!




Nos braços de um prazer que tangencia o espasmo,

Olha! também me arrasto! e, mais do que eles pasmo,

Digo: que buscam estes cegos ver no Céu?





(Ilustração: Bruegel - os cegos)


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