Viento del Sur,
moreno, ardiente,
llegas sobre mi carne,
trayéndome semilla
de brillantes
miradas, empapado
de azahares.
Pones roja la luna
y sollozantes
los álamos cautivos, pero vienes
¡demasiado tarde!
¡Ya he enrollado la noche de mi cuento
en el estante!
Sin ningún viento,
¡hazme caso!,
gira, corazón;
gira, corazón.
Aire del Norte,
¡oso blanco del viento!
Llegas sobre mi carne
tembloroso de auroras
boreales,
con tu capa de espectros
capitanes,
y riyéndonte a gritos
del Dante.
¡Oh pulidor de estrellas!
Pero vienes
demasiado tarde.
Mi almario está musgoso
y he perdido la llave.
Sin ningún viento,
¡hazme caso!,
gira, corazón;
gira, corazón.
Brisas, gnomos y vientos
de ninguna parte.
Mosquitos de la rosa
de pétalos pirámides.
Alisios destetados
entre los rudos árboles,
flautas en la tormenta,
¡dejadme!
Tiene recias cadenas
mi recuerdo,
y está cautiva el ave
que dibuja con trinos
la tarde.
Las cosas que se van no vuelven nunca,
todo el mundo lo sabe,
y entre el claro gentío de los vientos
es inútil quejarse.
¿Verdad, chopo, maestro de la brisa?
¡Es inútil quejarse!
Sin ningún viento,
¡hazme caso!,
gira, corazón;
gira, corazón.
Tradução de William Angel de Mello:
Vento do Sul,
moreno, ardente,
que passas sobre minha carne
trazendo-me semente
de brilhantes
olhares, empapado
de flores de laranjeira.
Tornas vermelha a lua
e soluçantes
os álamos cativos, mas vens
demasiado tarde!
Já enrolei a noite de meu conto
na estante!
Sem nenhum vento,
acredita em mim!,
gira, coração;
gira, coração.
Ar do norte,
urso branco do vento!
Que passas sobre minha carne
tremente de auroras
boreais,
com tua capa de espectros
capitães,
e rindo estrepitosamente
do Dante.
Oh! polidor de estrelas!
Mas vens
demasiado tarde.
Meu armário está musgoso
e perdi a chave.
Sem nenhum vento,
acredita em mim!,
gira, coração;
gira, coração.
Brisas, gnomos e ventos
de nenhuma parte.
Mosquitos da rosa
de pétalas pirâmides.
Alísios destetados
entre as rudes árvores,
flautas na tormenta,
deixai-me!
Tem fortes cadeias
minha recordação,
e está cativa a ave
que desenha com trinos
a tarde.
As coisas que vão não voltam nunca,
todo o mundo sabe disso,
e entre o claro gentio dos ventos
é inútil queixar-se.
Não é verdade, choupo, mestre da brisa?
É inútil queixar-se!
Sem nenhum vento,
acredita em mim!
gira, coração;
gira, coração.
(Obra Poética Completa)
(Ilustração: Kay Sage - I saw tree cities)
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