(Ilustração: Alia El-Bermani – espelho)
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
A SERENATA, de Adélia Prado
Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?
(Ilustração: Alia El-Bermani – espelho)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário