quinta-feira, 22 de abril de 2010

GREGUERIAS, de Ramon Gomez de la Serna






O ARCO do violino cose, como a agulha com a linha,
notas e almas, almas e notas.


A ESPINHA dorsal é o bastão que engolimos ao nascer.


QUANDO a mulher pede salada de frutas para dois,
aperfeicoa o pecado original.


O POETA se alimenta com bolachas da lua.


A LUA dos arranha-céus nao é a mesma lua dos
horizontes.


DANTE ia todos os sabados ao cabeleireiro, a fim de
aparar a coroa de louros.


AS ESPIGAS fazem cócegas no vento.


A GALINHA e a única cozinheira que sabe fazer, com
milho sem ovo, um ovo sem milho.


SÓ O POETA tem um relógio de lua.


OS HAICAIS sao telegramas poéticos.


NOSTALGIA: nevralgia das recordacões.


CAMOES e Cervantes sao como dois companheiros de
asilo, um caolho e o outro manco.


DOIS num carro: idílio. Três: adulterio. Quatro: sequestro.
Cinco: crime. Seis: tiroteio com a Polícia.


O APITO do trem só serve para semear a melancolia
pelos campos.


O SONHO é um depósito de objetos extraviados.




(Greguerias, traducao de Sérgio Alcides)


(Ilustração: Juan Miró – carnaval de arlequin)



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