domingo, 11 de outubro de 2009

FEVER 103° / FEBRE, 40°, de Sylvia Plath









Pure? What does it mean?

The tongues of hell

Are dull, dull as the triple




Tongues of dull, fat Cerberus

Who wheezes at the gate. Incapable

Of licking clean




The aguey tendon, the sin, the sin.

The tinder cries.

The indelible smell




Of a snuffed candle!

Love, love, the low smokes roll

From me like Isadora’s scarves, I’m in a fright




One scarf will catch and anchor in the wheel,

Such yellow sullen smokes

Make their own element. They will not rise,




But trundle round the globe

Choking the aged and the meek,

The weak




Hothouse baby in its crib,

The ghastly orchid

Hanging its hanging garden in the air,




Devilish leopard!

Radiation turned it white

And killed it in an hour.




Greasing the bodies of adulterers

Like Hiroshima ash and eating in.

The sin. The sin.




Darling, all night

I have been flickering, off, on, off, on.

The sheets grow heavy as a lecher’s kiss.




Three days. Three nights.

Lemon water, chicken

Water, water make me retch.




I am too pure for you or anyone.

Your body

Hurts me as the world hurts God. I am a lantern——




My head a moon

Of Japanese paper, my gold beaten skin

Infinitely delicate and infinitely expensive.




Does not my heat astound you! And my light!

All by myself I am a huge camellia

Glowing and coming and going, flush on flush.




I think I am going up,

I think I may rise——

The beads of hot metal fly, and I love, I




Am a pure acetylene

Virgin

Attended by roses,




By kisses, by cherubim,

By whatever these pink things mean!

Not you, nor him




Nor him, nor him

(My selves dissolving, old whore petticoats)——



To Paradise.




Tradução de Rodrigo G. Lopes e Maurício A. Mendonça:





Pura? Como assim?

As línguas do inferno

São sujas, sujas como as três


Línguas do sujo e gordo Cérbero

Que arfa ao portão. Incapaz

De lamber e limpar


O membro em febre, o pecado, o pecado.

A chama chora.

O cheiro inconfundível


De um toco de vela!

Amor, amor, a fumaça escapa de mim

Como a écharpe de Isadora, e temo


Que uma das pontas ancore-se na roda.

Uma fumaça amarela e lenta assim


faz de si seu elemento. Não vai subir,


Mas envolver o globo

Sufocando o velho e o oprimido,

O frágil


Bebê em seu berço,

Orquídea pálida

Suspensa em seu jardim suspenso no ar,


Leopardo diabólico!

A radiação o embarque

E o mata em uma hora.


Engordurando os corpos dos adúlteros

Como as cinzas de Hiroshima que os devora.

O pecado. O pecado.


Meu bem, passei a noite

Me virando, indo e vindo, indo e vindo,

Os lençóis me oprimindo como o beijo de um devasso.


Três dias. Três noites.

Limonada, canja


Aguarda, água me deixe enjoada.


Sou pura demais pra você ou pra qualquer um.

Seu corpo

Me ofende como o mundo ofende Deus. Sou uma lanterna –


Minha cabeça uma lua

De papel japonês, minha pele folheada a ouro


Infinitamente delicada e infinitamente cara.


Meu calor não te assusta. Nem minha luz.

Sou uma camélia imensa

Que oscila e jorra e brilha, gozo a gozo.


Acho que estou chegando,

Acho que posso levantar –

Contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu


Sou uma virgem pura

De acetileno

Cercada de rosas,


De beijos, de querubins,

Ou do que sejam essas coisas róseas.

Não você, nem ele,


Não ele, nem ele

(Eu me dissolvo toda, anágua de puta velha) –

Ao Paraíso.




(The Collected Poems of Sylvia Plath)




(Ilustração: Alina Raczkiewicz - blue figure)


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