quarta-feira, 7 de setembro de 2022

IO SONO UNA FORZA DEL PASSATO / EU SOU UMA FORÇA DO PASSADO, de Pier Paolo Pasolini

 


               

Io sono una forza del passato.

Solo nella tradizione è il mio amore.

Vengo dai ruderi, dalle chiese,

dalle pale d’altare, dai borghi

abbandonati sugli Appennini o le Prealpi,

dove sono vissuti i fratelli.

Giro per la Tuscolana come un pazzo,

per l’Appia come un cane senza padrone.

O guardo i crepuscoli, le mattine

su Roma, sulla Ciociaria, sul mondo,

come i primi atti del Dopostoria,

cui io assisto, per privilegio d’anagrafe,

sull’orlo estremo di qualche età

sepolta. Mostruoso è chi è nato

dalle viscere di una donna morta.

E io, feto adulto, mi aggiro

più moderno di ogni moderno

a cercare i fratelli che non sono più.[7]

 

Tradução de Aurora Fornoni Bernardini:

 

Eu sou uma força do passado.

Apenas na tradição está meu amor.

Venho das ruínas, das igrejas,

dos retábulos, dos burgos

abandonados nos Apeninos ou Prealpes,

onde viveram os irmãos.

Vagueio pela Tuscolana feito um louco,

pela Appia feito um cão sem dono.

Ou olho para os crepúsculos, as manhãs

pairando sobre Roma, a Ciociaria, o mundo,

como os primeiros atos do Após-História,

aos quais assisto, por um privilégio do registro,

na orla extrema de alguma idade

sepulta. Monstruoso é quem nasceu

das vísceras de uma mulher morta.

E eu, feto adulto, ando à volta

mais moderno que qualquer moderno

à procura dos irmãos que já não são.

 



(“Seis poetas italianos”. In "Literatura Italiana Traduzida", v.1., n.8, ago. 2020)



(Ilustração: Carlos Barahona Possollo)

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