terça-feira, 7 de julho de 2020

THE IMAGINARY ICEBERG / O ICEBERG IMAGINÁRIO, de Elizabeth Bishop





We’d rather have the iceberg than the ship,

although it meant the end of travel.

Although it stood stock-still like cloudy rock

and all the sea were moving marble.

We’d rather have the iceberg than the ship;

we’d rather own this breathing plain of snow

though the ship’s sails were laid upon the sea

as the snow lies undissolved upon the water.

O solemn, floating field,

are you aware an iceberg takes repose

with you, and when it wakes may pasture on your snows?



This is a scene a sailor’d give his eyes for.

The ship’s ignored. The iceberg rises

and sinks again; its glassy pinnacles

correct elliptics in the sky.

This is a scene where he who treads the boards

is artlessly rhetorical. The curtain

is light enough to rise on finest ropes

that airy twists of snow provide.

The wits of these white peaks

spar with the sun. Its weight the iceberg dares

upon a shifting stage and stands and stares.



The iceberg cuts its facets from within.

Like jewelry from a grave

it saves itself perpetually and adorns

only itself, perhaps the snows

which so surprise us lying on the sea.

Good-bye, we say, good-bye, the ship steers off

where waves give in to one another’s waves

and clouds run in a warmer sky.

Icebergs behoove the soul

(both being self-made from elements least visible)

to see them so: fleshed, fair, erected indivisible.



(North & South; 1946)



Tradução de Paulo Henriques Britto:



O iceberg nos atrai mais que o navio,

mesmo acabando com a viagem.

Mesmo pairando imóvel, nuvem pétrea,

e o mar um mármore revolto.

O iceberg nos atrai mais que o navio:

queremos esse chão vivo de neve,

mesmo com as velas do navio tombadas

qual neve indissoluta sobre a água.

Ó calmo campo flutuante,

sabes que um iceberg dorme em ti, e em breve

vai despertar e talvez pastar na tua neve?



Esta cena um marujo daria os olhos

pra ver. Esquece-se o navio. O iceberg

sobe e desce; seus píncaros de vidro

corrigem elípticas no céu.

Este cenário empresta a quem o pisa

uma retórica fácil. O pano leve

é levantado por cordas finíssimas

de aéreas espirais de neve.

Duelo de argúcia entre as alvas agulhas

e o sol. O seu peso o iceberg enfrenta

no palco instável e incerto onde se assenta.



É por dentro que o iceberg se faceta.

Tal como joias numa tumba

ele se salva para sempre, e adorna

só a si, talvez também as neves

que nos assombram tanto sobre o mar.

Adeus, adeus, dizemos, e o navio

segue viagem, e as ondas se sucedem,

e as nuvens buscam um céu mais quente.

O iceberg seduz a alma

(pois os dois se inventam do quase invisível)

a vê-lo assim: concreto, ereto, indivisível.



(O Iceberg Imaginário e outros poemas, 2001)



Tradução de Horácio Costa:



Preferimos o iceberg ao navio,

embora isto significasse o fim da viagem.

Embora ele estivesse melancólico, como pedra de nuvem

e todo o mar em volta fosse moção de mármore.

Preferimos o iceberg ao navio;

preferimos esta planície de neve que respira,

embora as velas do navio jazessem no mar

como segue no mar sem dissolver-se a neve.

Campo flutuante, solene, perceberás

que contigo um iceberg repousa,

que a seu despertar pastará as tuas neves?



Por esta cena um marinheiro daria os olhos.

O navio é ignorado. O iceberg sobe

e afunda de novo; seus pináculos de vidro

corrigem elípticas no céu.

Quem dissimular ante esta cena parecerá

artificialmente retórico. A cortina é o suficiente leve

para levantar-se a partir dos fios invisíveis

que as volutas de neve inventam.

As centelhas destas arestas brancas

competem com as do sol. O iceberg invade

com seu peso um cenário cambiante, e para, e observa.



Este iceberg lapida-se de dentro as faces.

Como joias deixadas num sarcófago

preserva-se perpetuamente e só a si

enfeita; talvez também o faça a neve

que tanto nos surpreendeu à flor d’água, inteira.

Adeus, dizemos, adeus, o navio se afasta

até onde as ondas a outras ondas cedem passo

e as nuvens correm por um céu mais cálido.

Os icebergs pedem à alma

(ambos se autoproduzem com elementos pouco visíveis)

vê-los assim: corpóreos, puros, eretos, indivisíveis.



(Bishop, E. Poesias; 1990)



Tradução de Guilherme Gontijo Flores:



Melhor seria o iceberg que o navio,

mesmo que fosse o fim da viagem.

Mesmo parado feito pedra, nuvem-pedra,

num mar de mármore revolto.

Melhor seria o iceberg que o navio;

melhor é este chão de neve, vivo,

mesmo que as velas tombem sobre o mar

feito neve insoluta sobre as ondas.

Solene campo flutuante,

sabe que um iceberg dorme contigo e, em breve

quando acordar, só pasta em tua neve?



Pela cena um marujo daria seus olhos.

Ignora-se o navio. O iceberg sobe

e afunda; o píncaro de vidro

corrige elípticas no céu.

Pela cena, quem passa nesta prancha

tem retórica tosca. A leve

cortina sobe em cordas finas

criadas no ar convulso em neve.

A astúcia das agulhas brancas

confronta o sol. Seu peso, o iceberg ousa

num palco instável, então olha e pousa.



O iceberg corta as facetas que há por dentro.

Feito joias na tumba,

eternamente salva-se e adorna

somente a si, talvez à neve,

que nos surpreende sobre o mar.

Adeus, dizemos, e o navio parte

onde as ondas dão ondas uma à outra,

e as nuvens correm para um céu mais quente.

Um iceberg cabe à alma

(os dois se inventam do menos visível),

por vê-lo assim: carnal, concreto, indivisível.



Tradução de Adriano Scandolara:



Preferíamos o iceberg ao navio,

ainda que fosse o fim da viagem.

Ainda que imóvel, nebulosa rocha,

e o mar todo fosse ondas de mármore.

Preferíamos o iceberg ao navio;

esta planície tão viva de neve

por mais que as velas estejam ao mar

como na água a neve indissoluta.

Campo flutuante e solene,

tens ciência de que o iceberg descansa

contigo e pasta sua neve quando levanta?



Pela cena um marujo daria os olhos.

Ignorado o navio. O iceberg sobe

E afunda outra vez. Seus píncaros vítreos

corrigem elipses no céu.

Pela cena quem pisa no convés

Vira um retórico sem arte. Leve,

Sobe a cortina nas mais finas cordas

das voltas aéreas da neve.

A astúcia desses alvos cumes

enfrenta o sol. Num palco móvel, para

O iceberg, disputa seu peso e encara.



O iceberg corta suas facetas por dentro.

Como joia tumular

ele salva a si, sempre, e adorna

somente a si, talvez as neves

que tanto surpreendem sobre o mar.

Adeus, damos adeus, parte o navio

aonde as ondas a outras ondas cedem

e as nuvens correm num céu mais morno.

Icerbergs clamam à alma

(ambos são de elementos invisíveis)

que os veja assim: carnais, firmes, indivisíveis.



Tradução de Anderson Lucarezi:



Preferimos o iceberg ao navio,

embora indique o fim da viagem.

embora seja fixo em nuvem pétrea

e o mar um mármore que é móvel.

Preferimos o iceberg ao navio;

Preferimos ar do campo nevado

embora as velas tombem sobre o mar

enquanto jaz a neve sobre as águas.

Ó solene campo flutuante,

tens noção de que junto a ti repousa um iceberg

que ao acordar poderá pastar em tuas neves?



Tal cena um marujo paga pra ver.

O navio obscuro. O iceberg sobe

e afunda de novo; seu pico vítreo

corrige as elipses céu acima.

Quem quer que pise dentro desta cena

expõe retórica reles. O pano

é leve o bastante pras finas cordas

que frágeis flocos de neve fornecem.

Todo o engenho destes lumes brancos

duela com o sol. Seu peso o iceberg enfrenta

em cima do palco instável no qual se assenta.



O iceberg corta facetas por dentro.

Tal joias que há em um jazigo

ele se salva eternamente e adorna

apenas a si, talvez as neves

que surpreendem ao jazer no mar.

dizemos adeus, o navio se afasta

onde ondas cedem a outras ondas

e nuvens correm em um céu mais morno.

Estes icebergs incumbem à alma

(ambos feitos de elementos pouco visíveis)

de assim vê-los: encorpados, indivisíveis.



(Ilustração: Frederic Edwin Church - The Icebergs -1861)



 

 


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