sábado, 29 de fevereiro de 2020

PALAVRAS ALADAS, de Antonio Cicero

1 



Os juramentos que nos juramos

entrelaçados naquela cama

seriam traídos, se lembrados

hoje. Eram palavras aladas

e faladas não para ficar

mas, encantadas, voar. Faziam

parte das carícias que por lá

sopramos: brisas afrodisíacas

ao pé do ouvido, jamais contratos.

Esqueçamo-las, pois, dentre os atos

da língua, houve outros mais convincentes

e ardentes sobre os lençóis. Que esses,

em futuras noites, em vislumbres

de lembranças, sempre nos deslumbrem.




(Porventura)


(Ilustração: Sarah Anne-Johnson - Wonderlust)



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