terça-feira, 9 de julho de 2019

PARADISE LOST, BOOK I, VV. 1-58 / PARAÍSO PERDIDO, LIVRO 1, VV. 1-64 / PARAÍSO PERDIDO, LIVRO 1, VV. 1-73, de John Milton[*]







Of Man’s first disobedience, and the fruit

Of that forbidden tree whose mortal taste

Brought death into the World, and all our woe,

With loss of Eden, till one greater Man

Restore us, and regain the blissful seat,

Sing, Heavenly Muse, that, on the secret top

Of Oreb, or of Sinai, didst inspire

That shepherd who first taught the chosen seed

In the beginning how the heavens and earth

Rose out of Chaos: or, if Sion hill

Delight thee more, and Siloa’s brook that flowed

Fast by the oracle of God, I thence

Invoke thy aid to my adventurous song,

That with no middle flight intends to soar

Above th’ Aonian mount, while it pursues

Things unattempted yet in prose or rhyme.

And chiefly thou, O Spirit, that dost prefer

Before all temples th’ upright heart and pure,

Instruct me, for thou know’st; thou from the first

Wast present, and, with mighty wings outspread,

Dove-like sat’st brooding on the vast Abyss,

And mad’st it pregnant: what in me is dark

Illumine, what is low raise and support;

That, to the height of this great argument,

I may assert Eternal Providence,

And justify the ways of God to men.



Say first—for Heaven hides nothing from thy view,

Nor the deep tract of Hell—say first what cause

Moved our grand parents, in that happy state,

Favoured of Heaven so highly, to fall off

From their Creator, and transgress his will

For one restraint, lords of the World besides.

Who first seduced them to that foul revolt?



Nine times the space that measures day and night

To mortal men, he, with his horrid crew,

Lay vanquished, rolling in the fiery gulf,

Confounded, though immortal. But his doom

Reserved him to more wrath; for now the thought

Both of lost happiness and lasting pain

Torments him: round he throws his baleful eyes,

That witnessed huge affliction and dismay,

Mixed with obdurate pride and steadfast hate.



Tradução de Antônio José de Lima Leitão (1787 – 1856):



Do homem primeiro canta, empírea Musa,

A rebeldia — e o fruto, que, vedado,

Com seu mortal sabor nos trouxe ao Mundo

A morte e todo o mal na perda do Éden,

Até que Homem maior pôde remir-nos

E a dita celestial dar-nos de novo.

Do Orebe ou do Sinai no oculto cimo

Estarás tu, que ali auxílios deste

Ao pastor que primeiro aos escolhidos

Ensinou como do confuso Caos

Se ergueram no princípio o Céu e a Terra?

Ou mais te agrada Sião e a clara Síloe

Que mana ao pé do oráculo do Eterno?

Lá donde estás, invoco o teu socorro

Para este canto meu que hoje aventuro,

Decidido a galgar com voo inteiro

Muito por cima da montanha Aônia,

De assuntos ocupado que inda o Mundo

Tratados não ouviu em prosa ou verso.

E tu mais que ela, Espírito inefável,

Que aos templos mais magníficos preferes

Morar num coração singelo e justo,

Instrui-me porque nada se te encobre.

Desde o princípio a tudo estás presente:

Qual pomba, abrindo as asas poderosas,

Pairaste sobre a vastidão do Abismo

E com almo portento o fecundaste:

Da minha mente a escuridão dissipa,

Minha fraqueza eleva, ampara, esteia,

Para eu poder, de tal assunto ao nível,

Justificar o proceder do Eterno

E demonstrar a Providência aos homens.

Dize primeiro, tu que observas tudo

No Céu sublime, no profundo Inferno,

Dize primeiro a causa irresistível

Que mover pôde os pais da prole humana,

Em tão próspera sina, ao Céu tão caros,

A apostatar de Deus que o ser lhes dera

E a transgredir a lei que lhes ditara,

Sendo só num objeto restringidos,

No mais senhores do universo Mundo:

Quem lhes urdiu a sedução malvada

Que os lançou em tão feia rebeldia?

O Dragão infernal. Com torpe engano,

Por inveja e vinganças instigado,

Ele iludiu a mãe da humana prole,

Lá depois que seu ímpeto soberbo

O expulsara dos Céus coa imensa turba

Dos rebelados anjos, seus consócios.

Confiado num exército tamanho,

Aspirando no Empíreo a ter assento

De seus iguais acima, destinara

Ombrear com Deus, se Deus se lhe opusesse,

E com tal ambição, com tal insânia,

Do Onipotente contra o Império e trono

Fez audaz e ímpio guerra, deu batalhas.

Mas da altura da abóbada celeste

Deus, coa mão cheia de fulmíneos dardos,

O arrojou de cabeça ao fundo Abismo,

Mar lúgubre de ruínas insondável,

A fim que atormentado ali vivesse

Com grilhões de diamante e intenso fogo

O que ousou desafiar em campo o Eterno.

Pelo espaço que abrange no orbe humano

Nove vezes o dia e nove a noite,

Ele com sua multidão horrenda,

A cair estiveram derrotados

Apesar de imortais, e confundidos

Rolaram nos cachões de um mar de fogo.

Sua condenação, porém, o guarda

Para mais fero horror: e vendo agora

Perdida a glória, perenal a pena,

Este duplo prospecto na alma o punge.



Tradução de Francisco Bento Maria Targini (1756 — 1827):


A primeira fatal desobediência

Do homem, e da vedada árvore o fruto,

Cujo gosto mortal ao mundo trouxe

A morte e todas as desgraças nossas,

Co’a perda de Éden, té que um outro homem

Maior nos restaurasse a posse dele;

Canta, celeste Musa, que do oculto

Cimo do Horeb ou do Sinai ditaste

Ao Pastor, que primeiro à raça eleita

Ensinou como foram no princípio

Céus e Terra do Caos levantados!

E se mais te deleita o monte Sion

De Siloé as águas, que avizinham

De Deus o oráculo, Eu de lá invoco

O auxílio teu a meu ousado canto,

Que não com médio voo sublimar-se

Do Aônio monte acima quer, traçando

Ação jamais cantada em prosa, ou verso.

E tu principalmente, ó Divo Esp’rito,

Que preferes aos templos um sincero

E puro coração: Ó tu me inspira,

Pois que antes de haver tempo tudo vias

E qual a Pomba sob as pandas asas

O abismo fecundaste; ora dissipa

Da mente minha as trevas, o que humilde

Tiver levante, afim que altos ideais

Correspondam do assunto à gravidade,

Para que a Providência eterna prove

E de Deus justifique a Lei aos homens.

Dize primeiro, pois que o Céu, e Inferno

Nada pode ocultar-te; a causa dize,

Que moveu nossos pais, de glória cheios,

E do Céu tão queridos, a perderem

Do Criador a graça, transgredindo

Sua vontade num leve preceito;

Do mundo sendo todo já senhores?

Quem primeiro à revolta os seduzira?

O Dragão infernal foi com astúcia,

Por inveja movido, e por vingança,

Quem a mau enganou da humanidade

No tempo em que dos Céus aquele espírito

A soberba expulsara, com as hostes

Dos rebelados Anjos que o seguiram,

E com que pretendera sublimar-se

De seus iguais acima, pressupondo

Do Altíssimo igualar a onipotência,

Se lhe obstasse; movendo ambicioso,

Contra o trono de Deus e monarquia,

Crua guerra no Céu, precipitando de cabeça,

Ardendo em raios das esferas que ara,

Num abismo sem fim de fogo eterno,

Onde atado a grilhão diamantino

Jazerá para sempre atormentado,

Por competir ousar com Deus superno.

Nove sóis, nove noites, aos humanos

O tempo repartira, enquanto rolam

O Espírito infernal e seus sequazes,

Através o ígneo golfo já vencidos,

E em confusão horrível misturados;

Sem lhes valer o ser de imortais entes:

Tal condição ao chefe derrotado

Aumenta muito mais a dor, a raiva,

Vendo agora o bem alto que perdera,

E o tormento sem fim em que jazia.





[*] Ambos os tradutores de Milton aumentaram o número de versos em relação ao poema original, prática inusual atualmente.

(Ilustração: William Blake - Paradise Lost 5)




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