I
ON the door you will not enter,
I have gazed too long: adieu!
Hope withdraws her peradventure;
Death is near me, — and not you .
Come, O lover,
Close and cover
These poor eyes, you called, I ween,
" Sweetest eyes were ever seen!"
II
When I heard you sing that burden
In my vernal days and bowers,
Other praises disregarding,
I but hearkened that of yours —
Only saying
In heart-playing,
" Blessed eyes mine eyes have been,
If the sweetest HIS have seen!"
III
But all changes. At this vesper,
Cold the sun shines down the door.
If you stood there, would you whisper
" Love, I love you," as before, —
Death pervading
Now, and shading
Eyes you sang of, that yestreen,
As the sweetest ever seen?
IV
Yes. I think, were you beside them,
Near the bed I die upon,
Though their beauty you denied them,
As you stood there, looking down,
You would truly
Call them duly,
For the love's sake found therein,
" Sweetest eyes were ever seen."
V
And if you looked down upon them,
And if they looked up to you ,
All the light which has forgone them
Would be gathered back anew:
They would truly
Be as duly
Love-transformed to beauty's sheen,
" Sweetest eyes were ever seen."
VI
But, ah me! you only see me,
In your thoughts of loving man,
Smiling soft perhaps and dreamy
Through the wavings of my fan;
And unweeting
Go repeating,
In your reverie serene,
" Sweetest eyes were ever seen — "
VII
While my spirit leans and reaches
From my body still and pale,
Fain to hear what tender speech is
In your love to help my bale.
O my poet,
Come and show it!
Come, latest love, to glean
" Sweetest eyes were ever seen."
VIII
O my poet, O my prophet,
When you praised their sweetness so,
Did you think, in singing of it,
That it might be near to go?
Had you fancies
From their glances,
That the grave would quickly screen
" Sweetest eyes were ever seen"?
IX
No reply. The fountain's warble
In the courtyard sounds alone.
As the water to the marble
So my heart falls with a moan
From love-sighing
To this dying.
Death forerunneth Love to win
" Sweetest eyes were ever seen."
X
Will you come? When I'm departed
Where all sweetnesses are hid,
Where thy voice, my tender-hearted,
Will not lift up either lid.
Cry, O lover,
Love is over!
Cry, beneath the cypress green,
" Sweetest eyes were ever seen!"
XI
When the angelus is ringing,
Near the convent will you walk,
And recall the choral singing
Which brought angels down our talk?
Spirit-shriven
I viewed Heaven,
Till you smiled — " Is earth unclean,
Sweetest eyes were ever seen?"
XII
When beneath the palace-lattice
You ride slow as you have done,
And you see a face there that is
Not the old familiar one, —
Will you oftly
Murmur softly,
" Here ye watched me morn and e'en,
Sweetest eyes were ever seen!"
XIII
When the palace-ladies, sitting
Round your gittern, shall have said,
" Poet, sing those verses written
For the lady who is dead,"
Will you tremble
Yet dissemble, —
Or sing hoarse, with tears between,
" Sweetest eyes were ever seen?"
XIV
" Sweetest eyes!" how sweet in flowings
The repeated cadence is!
Though you sang a hundred poems,
Still the best one would be this.
I can hear it
'Twixt my spirit
And the earth-noise intervene —
" Sweetest eyes were ever seen!"
XV
But the priest waits for the praying,
And the choir are on their knees,
And the soul must pass away in
Strains more solemn-high than these.
Miserere
For the weary!
Oh, no longer for Catrine
" Sweetest eyes were ever seen!"
XVI
Keep my riband, take and keep it,
(I have loosed it from my hair)
Feeling, while you overweep it,
Not alone in your despair,
Since with saintly
Watch unfaintly
Out of heaven shall o'er you lean
" Sweetest eyes were ever seen."
XVII
But — but now — yet unremoved
Up to heaven, they glisten fast;
You may cast away, Beloved,
In your future all my past:
Such old phrases
May be praises
For some fairer bosom-queen —
" Sweetest eyes were ever seen!"
XVIII
Eyes of mine, what are ye doing?
Faithless, faithless, — praised amiss
If a tear be of your showing,
Dropt for any hope of HIS !
Death has boldness
Besides coldness,
If unworthy tears demean
" Sweetest eyes were ever seen."
XIX
I will look out to his future;
I will bless it till it shine.
Should he ever be a suitor
Unto sweeter eyes than mine,
Sunshine gild them,
Angels shield them,
Whatsoever eyes terrene
Be the sweetest HIS have seen!
Tradução de Fernando Pessoa:
I
Para a porta onde não surges nem me vês
Há muito tempo que olho já em vão.
A esperança retira o seu talvez;
Aproxima-se a morte, mas tu não.
Amor, vem
Fechar bem
Estes olhos de que dissestes ao vê-los:
O lindo ser dos vossos olhos belos.
II
Quando te ouvi cantar esse bordão
Nos meus de primavera alegres dias;
Todo alheio louvar tendo por vão
Só dava ouvidos ao que tu dizias
- Dentro em mim
Dizendo assim:
"Ditosos olhos de que disse ao vê-los:
O lindo ser dos vossos olhos belos."
III
Mas tudo muda. Nesta tarde fria
O sol bate na porta sem calor.
Se estivesse aí murmuraria
Como dantes tua voz - "amo-te, amor";
A morte chega
E já cega
Os olhos que ontem eram teus desvelos
O lindo ser dos vossos olhos belos.
IV
Sim. Creio que se a vê-los te encontrasses
Agora, ao pé do leito em que me fino,
Ainda que a beleza lhes negasses,
Só pelo amor que neles eu defino
Com verdade
E ansiedade
Repetirias, meu amor, ao vê-los:
O lindo ser dos vossos olhos belos.
V
E se neles pusesse teu olhar
E eles pusessem seu olhar no teu,
Toda a luz que começa a lhes faltar
Voltaria de pronto ao lugar seu.
Com verdade
E ansiedade
Dir-se-ia como tu disseste ao vê-los:
O lindo ser dos vossos olhos belos.
VI
Mas - ai de mim! - tu não me vês senão
Nos pensamentos teus de amante ausente,
E sorrindo talvez, sonhando em vão,
Trás o abanar do leque levemente;
E, sem pensar,
Em teu sonhar
Iras talvez dizendo sempre ao vê-los:
O lindo ser dos vossos olhos belos,
VII
Enquanto o meu espírito se debruça
Do meu pálido corpo sucumbido,
Ansioso de saber que falas usa
Teu amor pra meu espírito ferido,
Poeta, vem
Mostrar bem
Que amor trazem aos olhos teus desvelos
- O lindo ser dos vossos olhos belos.
VIII
Ó meu poeta, ó meu profeta, quando
Destes olhos louvaste o lindo ser,
Pensaste acaso, enquanto ias cantando,
Que isso já estava prestes de morrer?
Seus olhares
Deram-te ares
De que breve podias não mais vê-los,
O lindo ser dos vossos olhos belos.
IX
Ninguém responde. Só suave, defronte,
No pátio a fonte canta em solidão,
E como água no mármore da fonte,
Do amor pra a morte cai meu coração.
E é da sorte
Que seja a morte
E não o amor, que ganhe os teus desvelos
- O lindo ser dos vossos olhos belos!
X
E tu nunca virás? Quando eu me for
Onde as doçuras estão escondidas,
E onde a tua voz, ó meu amor,
Não me abrirá as pálpebras descidas,
Dize, amo meu,
"O amor, morreu!"
Sob o cipreste chora os teus desvelos
- O lindo ser dos vossos olhos belos.
XI
Quando o angelus toca à oração,
Não passarás ao pé deste convento,
Lembrando-te, a chorar, do cantochão
Que anjos nos traziam do firmamento?
No ardor meu
Eu via o céu
E tu: "O mundo é vil, ó meus desvelos,
Ao lindo ser dos vossos olhos belos?"
XII
Devagar quando, do palácio ao pé,
Cavalgares, como antes, suave e rente,
E ali vires um rosto que não é
O que vias ali antigamente,
Dirás talvez
"Tanta vez
Me esperaste aqui, ó meus desvelos
Ó lindo ser dos vossos olhos belos!"
XIII
Quando as damas da corte, arfando os peitos,
Te disserem, olhando o gesto teu,
"Canta-nos, poeta, aqueles versos feitos
Àquela linda dama que morreu",
Tremerás?
Calar-te-ás?
Ou cantarás, chorando, os teus desvelos
- O lindo ser dos vossos olhos belos?
XIV
"Lindo ser de olhos belos!" Suaves frases
E deliciosas quando eu as repito!
Cem poesias outras que cantasses,
Sempre nesta a melhor terias dito.
Sinto-a calma
Entre a minha alma
E os rumores da terra ? pesadelos:
- O lindo ser dos vossos olhos belos.
XV
Mas reza o padre junto à minha face,
E o coro está de joelhos todo em prece,
E é forçoso que a alma minha passe
Entre cantos de dor, e não como esse.
Miserere
P'los que fere
O mundo, e pra Natércia, os teus desvelos
- O lindo ser dos vossos olhos belos.
XVI
Guarda esta fita que te mando
(Tirei-a dos cabelos para ti).
Sentir-te-ás, quando o teu choro arda,
Acompanhado na tua dor por mi;
Pois com pura
Alma imperjura
Sempre do céu te olharão teus desvelos
- O lindo ser dos vossos olhos belos.
XVII
Mas agora, esta terra inda os prendendo,
Desses olhos o brilho é inda alado...
Amor, tu poderás encher, querendo,
Teu futuro de todo o meu passado,
E tornar
A cantar
A outra dama ideal dos teus desvelos:
O lindo ser dos vossos olhos belos.
XVIII
Mas que fazeis, meus olhos, ó perjuros!
Perjuros ao louvor que ele vos deu,
Se esta hora mesmo vos não mostrais puros
De lágrima que acaso vos encheu?
Será forte
Choro ou morte
Se indignos os tornar de teus desvelos
- O lindo ser dos vossos olhos belos.
XIX
Seu futuro encherá meu spírito alado
No céu, e abençoá-lo-ei dos céus.
Se ele vier a ser enamorado
De olhos mais belos do que os olhos meus,
O céu os proteja,
Suave lhes seja
E possa ele dizer, sincero, ao vê-los:
O lindo ser dos vossos olhos belos.
(Fernando Pessoa Obra Poética)
(Ilustração: Nuno Goncalves - paineis de São Vicente de Fora)
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