Sabemos que, em sua
adolescência, Fernando Pessoa foi um leitor admirativo de Thomas Carlyle. O
escritor escocês constava no currículo escolar do jovem poeta [2] , e em sua biblioteca
continuou constando, através dos anos, o livro
Sartor, Resartus. Heroes Past and Present [3]. Esta obra permaneceu viva na
memória do poeta, que a refere em alguns escritos. Por exemplo: ele cita a
mesma frase do Carlyle em dois fragmentos do Livro do desassossego [4].
Em seu livro Fernando Pessoa na África do Sul,
Alexandrino E. Severino dedicou um capítulo à influência de Carlyle sobre
Pessoa, em particular no que concerne ao papel do poeta no governo da nação. O
que aqui pretendo examinar é, de modo mais geral, a concepção do poeta como
herói, e as diversas posições assumidas por Pessoa, como homem e como poeta,
com respeito a essa concepção.
A concepção do poeta como
herói foi introduzida pelos românticos alemães e levada para a Inglaterra por
Thomas Carlyle. Em suas famosas conferências “The Hero as Man of Letters” e
“The Poet as Hero”[5], ambas de 1840, Carlyle observava que os heróis de tipo divino
ou profético pertenciam a tempos remotos e já não eram cultuados no mundo moderno.
E ele propunha que se considerassem os escritores como os heróis das novas
eras.
Curiosamente, a primeira
conferência, “The Hero as Man of Letters”, contém mais informações sobre a
concepção do poeta como herói do que a segunda, intitulada precisamente “The
Poet as Hero”. Nesta segunda conferência, o ensaísta apenas exemplifica sua
tese, apontando Shakespeare, Goethe e Dante como heróis nacionais de seus
respectivos países. É na primeira, portanto, que nos deteremos.
As principais ideias
expostas por Carlyle são as seguintes:
1) A difusão da imprensa
trouxe uma nova forma de heroísmo que se manterá nas eras futuras;
2) O escritor deve ser
encarado como a mais importante das pessoas modernas;
3) A vida de um escritor nos
permite conhecer melhor o tempo que o produziu e no qual viveu;
4) A função do escritor é a
mesma que as eras passadas atribuíam ao Profeta, ao Sacerdote e à Divindade;
5) A Literatura é uma forma
de revelação.
6) A sociedade contemporânea
oferece condições difíceis para o escritor, do ponto de vista moral e material;
no entanto, ela deveria reconhecer sua importância e dar-lhe o governo das
nações.
7) Essa sociedade é
miserável e “pestilenta”, mas vai melhorar no futuro; o ceticismo moral e
intelectual deve ser vencido, porque “o homem vive por acreditar em alguma
coisa, não por debater e discutir sobre muitas coisas” [“A man lives by believing something, not by debating and arguing about
many things.”].
8) Não devemos pensar em
salvar o mundo, porque Deus cuidará disso. Devemos olhar para nós mesmos e cumprir
o “dever de ficar em casa” [“the ‘duty of
staying home’”].
9) O Herói-Homem-de-Letras
merece ser adorado e seguido por adoradores. Mas permanece tranquilo e
indiferente à celebridade.
10) O Herói-Homem-de-Letras
não é um vitorioso, mas um herói que tombou [“a
fallen Hero”].
Examinemos, agora, em que
medida Fernando Pessoa adotou essas ideias de Carlyle. Em sua juventude, ele
mantinha a convicção romântica de que a literatura era uma forma de revelação,
de que o poeta tinha uma missão transcendente a cumprir e uma vocação imperiosa
a honrar: “a terrível e religiosa missão que todo homem de gênio recebe de Deus
com o seu gênio” (carta a Armando Cortes Rodrigues, 19/01/1915).
Como afirmava Carlyle,
Pessoa acreditava que os homens de letras (“os homens do sonho”) deviam ter um
papel relevante no governo das nações. Em outra carta ao mesmo destinatário
(02/09/1914), o poeta dizia estar escrevendo uma “Teoria da República Aristocrática”,
à maneira de Carlyle.
Em vários pontos de sua
obra, Pessoa lamentou que o mundo de seu tempo não permitisse mais a aliança do
sonho com a ação, como ocorrera em Portugal, na era dos Descobrimentos. Esse
ideal heroico permanece, em sua obra poética e ensaística, sob a forma de
utopia messiânica. É em Mensagem que
o poeta celebra os heróis de seu país, como inspiração para um futuro “império”
português. Sabemos, porém, que as propostas de Pessoa não concerniam
diretamente à res publica, e que o
Quinto Império por ele anunciado seria um império cultural.
A visão de sua época como
uma época de decadência também é fartamente expressa em sua obra. A
vulgarização da imprensa, como qualquer vulgarização, o desgostava. O pequeno
número de suas publicações, em contraste com a espantosa abundância de seus textos
inéditos, mostra ao mesmo tempo a alta conta em que tinha o Livro e a baixa expectativa
com relação ao público virtual. No Livro
do desassossego, podemos ler: “Publicar-se – socialização de si próprio.
Que ignóbil necessidade! Mas ainda assim que afastada de um acto – o editor
ganha, o tipógrafo produz. O mérito da incoerência ao menos.” (LD 216) [“To be published – the socialization of
oneself. (Contemptible necessity! But still not involving an act, since it is
the editor who earns, the printer who produces.) It at least has the merit of
incoherence.[6]”]
Entretanto, os textos
pessoanos mostram o quanto a situação se agravou desde o início do século XIX.
Carlyle era cristão, acreditava num Deus providencial. Pessoa considerava o
cristianismo uma doença de nossa civilização. Ele viveu o tempo da ausência dos
deuses, do silêncio dos oráculos, tempo em que o Poeta não era mais o Profeta e
o Sacerdote, mas apenas um emissário sem credenciais.
Ainda religioso, Carlyle
acreditava na Verdade com V maiúsculo e considerava a sinceridade como a
principal qualidade do Poeta. Pessoa não acreditava na existência de uma
verdade única, e relativizou ao extremo a sinceridade do poeta. Finalmente,
Carlyle era otimista quanto ao futuro, enquanto Pessoa incorre, muitas vezes,
no pecado de niilismo condenado pelo escritor escocês. Quando, no fim de Mensagem, ele escreve “É a Hora!”, essa
Hora oculta no nevoeiro é mais uma aspiração do que uma crença. Mais adequada
ao poeta, porque mais constante, é a constatação de Álvaro de Campos: “Os deuses
vão-se, como forasteiros. / Como uma feira acaba a tradição. / Somos todos
palhaços e estrangeiros. / A nossa vida é palco e confusão.”
Assim como Carlyle, Pessoa
não acreditava nos programas políticos redentores, em especial os programas
socialistas. Sua concepção da sociedade é aristocrática, baseada em valores que
a massa não poderia absorver. Por isso, os heterônimos cumpriam “the duty of staying
home”. Todos são caseiros: Álvaro de Campos fica “em casa sem camisa”; Alberto Caeiro
permanece em sua casa da colina; Ricardo Reis, fica sentado à beira-rio ou
beira-mar, contemplando; Bernardo Soares é, literalmente, “o da mansarda”. A
diferença é que Carlyle deixava o mundo a cargo da providência divina, e
Pessoa, em suas várias encarnações, é predominantemente cético.
O Herói-Homem-de-Letras de
Carlyle é indiferente à celebridade. Segundo ele, a celebridade é apenas a luz
de uma vela [“celebrity is but the
candle-light”]. Embora sonhasse eventualmente com ela, o homem Pessoa
jamais a buscou, deixando a fama “para as atrizes e os produtos farmacêuticos”
(Ultimatum de Álvaro de Campos).
Em vários pontos de sua
obra, Pessoa se autoqualifica como um Anti-Herói: “Não sou nada, nunca serei
nada”, “sou reles, sou vil como toda a gente” (Álvaro de Campos), “sou ninguém”
(Fernando Pessoa “ele mesmo” e Bernardo Soares). No Livro do desassosego, lemos: “Fui génio mais que nos sonhos e menos
que na vida. A minha tragédia é esta. Fui o corredor que caiu quase na meta,
sendo, até aí, o primeiro.” (LD 279). [“I
was a genius in more than dreams and in less than life. That is my tragedy. I
was the runner who led the race until he fell down, right before the finishing
line”[7]. Reencontramos, aí, o “herói que tombou” (“the fallen Hero”) de Carlyle. Os três Heróis-Homens-de-Letras de
Carlyle - Johnson, Rousseau e Burns – foram, em suas existências, heróis
decaídos, confrontados à pobreza material e à incompreensão da sociedade, como
Pessoa.
Todos os comentaristas de
Carlyle observam a natureza trágica do herói-escritor, que num período de crise
da sociedade só pode ser um “Meio-Herói” [“Half-Hero”].
A tentativa de enaltecer esse novo tipo de herói é ela mesma falida. Resta
apenas um consolo: esses heróis decaídos tombaram por nós, abrindo caminho para
nós [“They fell for us too, making a way
for us”.]. Bernardo Soares também tenta reverter a falência em vitória: “Façamos
de nossa falência uma vitória, uma coisa positiva e erguida, com colunas, majestade
e aquiescência espiritual.” (LD 290) [“Let’s
make our failure into a victory, into something positive and lofty, endowed
with columns, majesty and our mind’s consent.” [8].
Como Carlyle, ele recorre a
Rousseau para ilustrar essa idéia:
Rousseau
é o homem moderno, mas mais completo que qualquer homem moderno. Das fraquezas
que o fizeram falir tirou – ai dele e de nós! – as forças que o fizeram triunfar.
O que partiu dele venceu, mas nos lábaros de sua vitória, quando entrou na cidade,
viu-se que estava escrita, em baixo, a palavra ‘Derrota’. No que dele ficou para
trás, incapaz do esforço de vencer, foram as coroas e os ceptros, a majestade
de mandar e a glória de vencer por destino incerto. (LD 243) [Rousseau is the modern man, but more
complete than any modern man. From the weaknesses that made him fail, he
extracted – alas for him and for us! – the forces that made him triumph. The
part of him that came forth conquered, but on his victory banners, when he
entered the city, there appeared the word ‘Defeat’. In the part of him that
stayed behind, incapable of struggling to conquer, there were crowns and
sceptres, the majesty of rule and the glory of conquest – his by an inner
destiny. (BD 143)]
Pessoa pertence a uma
linhagem de heróis decaídos, ou gênios desqualificados da alta modernidade. O
fragmento acima citado nos remete ao texto de Baudelaire sobre Edgar Poe, que
assim se inicia: “Há, na literatura de cada país, homens que trazem a palavra infortúnio
escrita, em caracteres misteriosos, nas rugas sinuosas de sua fronte”[9].
Baudelaire foi leitor de Carlyle, e é certamente este que está por detrás de
sua interpretação de Poe, e que o faz dizer: “Edgar Poe, bêbado, pobre,
perseguido, pária, agrada-me mais do que, calmo e virtuoso, um Goethe ou um
Walter Scott”[10]. Baudelaire faz a mesma comparação que Carlyle, equiparando o
poeta a Cristo, que sofreu por nós, e considerando-o como um santo cuja
intercessão podemos solicitar.
Onde Baudelaire vai mais
longe que Carlyle e os românticos, abrindo a modernidade a um poeta como
Pessoa, é quando ele ousa afirmar que Poe foi grande como caricatura, como
malabarista, como farceur[11]. Isto é, como Anti-Herói, a condição que resta ao
poeta num ambiente hostil à poesia, um ambiente que não lhe concede mais um
lugar de destaque e lhe nega até mesmo as condições de uma vida material digna.
Walter Benjamin retomou essa
definição do poeta como herói da modernidade em Charles Baudelaire, um lírico
no auge do capitalismo[12]. Diz ele: “O poeta encontra o lixo da sociedade nas
ruas e, no próprio lixo, seu assunto heroico”; e cita Baudelaire, “despedindo-se
deste mundo onde o sonho e a ação vivem a sós”. Creio ser dispensável mostrar a
afinidade dessas considerações com as do Livro
do desassossego. Incógnito na multidão da sociedade de massa, o poeta é um
anti-herói, visto como um homem qualquer (“sem auréola”, dizia Baudelaire, “sem
grinalda”, dizia Álvaro de Campos), um homem até mesmo desprezado por sua
condição pouco relevante. Mas, paradoxalmente, por isso mesmo o poeta é um
herói. Sua persistência na atividade poética é um ato de heroísmo na sociedade
moderna.
Hoje, num outro século e
outro milênio, Pessoa foi, postumamente, erigido à condição de gênio da
literatura moderna. Pelo menos num texto, ele tinha previsto sua celebridade
futura:
Eu,
porém, que na vida transitória não sou nada, posso gozar a visão do futuro a
ler esta página, pois efectivamente a escrevo; posso orgulhar-me, como de um
filho, da fama que terei, porque, ao menos, tenho com que a ter. E quando penso
isto, erguendo-me da mesa, é com uma íntima majestade que a minha estatura
invisível se ergue acima de Detroit, Michigan, e de toda a praça de Lisboa. (LD
163) [I, however, who in this transitory
life am nothing, can enjoy the thought of the future reading this very page,
since I do actually write it; I can take pride – like a father in his son – in
the fame I will have, since at least I have something that could bring me fame.
And I think this, rising from the table, my invisible and inwardly majestic
stature rises above Detroit, Michigan, and over all the commercial district of
Lisbon[13].]
Não apenas Pessoa foi
reconhecido como um dos maiores poetas do século XX, mas tornou-se personagem
de romances, de filmes, de peças de teatro e até de balés. Como figura humana,
foi transformado em ícone, inspirador de grandes artistas plásticos. Na sociedade
de consumo que é a nossa, tornou-se também boneco de louça e ilustração de
tshirts para turistas. Pessoa, que era tão discreto em sua aparência e em seu
comportamento, acabou sendo uma caricatura dele mesmo. Isto é “celebridade”, no
sentido vulgar de figura conhecida.
Será esta a única acepção de
Herói que a época atual permite? Carlyle, apoiando-se em considerações
anteriores de Fichte[14], apontava a difusão da imprensa, na forma do mercado livreiro
e do jornalismo, como uma das razões da vulgaridade do tempo em que viveram
seus Heróis-Homens-de-Letras, Johnson, Rousseau e Burns: “Aquele não era um tempo
de Fé – um tempo de Heróis! A própria possibilidade de Heroísmo tinha sido,
como foi, formalmente abandonada em todas as mentes. O Heroísmo foi-se para
sempre; Trivialidade, Formulismo e Lugar-Comum vieram para ficar.” [“That was not an age of Faith, - an age of
Heroes! The very possibility of Heroism had been as it were, formally abnegated
in the minds of all. Heroism is gone forever; Triviality, Formulism and
Commonplace were come forever.”]. O que dizer, então, do poeta em nossa
época de mercado e internet? Carlyle caracteriza seu tempo como “estes dias
estridentes” [“these loud-shrieking days”].
E o nosso, então, como chamá-lo? As coisas pioraram ou, como disse Jorge Luis
Borges, todo homem considera sua época um “mau tempo para viver”[15].
Em seu último curso no
Collège de France, Roland Barthes afirmava que a grande literatura está em vias
de morrer, na prática e no ensino. Barthes olhava com admiração e nostalgia os
grandes escritores do passado, e observava, em nossos dias:
“Desaparecimento
dos líderes literários; esta é ainda uma noção social; o líder [é uma] figura
na organização da Cultura. Na comunidade dos escritores, uma outra palavra se
impõe, menos social, mais mítica: herói. Baudelaire acerca de Poe: ‘um dos
maiores heróis literários’. É essa Figura – ou essa Força - do Herói literário
que hoje se desvitaliza. Se pensarmos em Mallarmé, em Kafka, em Flaubert, e
mesmo em Proust, o que é o ‘heroísmo”? Uma espécie de exclusividade absoluta
concedida à literatura: monomania, ideia fixa; mas também, dito de outra forma,
uma transcendência, termo pleno de uma alternativa em que o outro termo seria o
mundo: a literatura é Tudo, ela é o Tudo do mundo.[16]”.
Assim foi a Literatura para
Pessoa, um mundo maior do que o mundo. E por isso acedeu à celebridade, no
sentido nobre da conquista universal de leitores. Não são muito numerosos,
atualmente, os indivíduos para quem a literatura é uma atividade sublime e um poeta
é um herói. Mas eles continuam existindo, e nós, aqui reunidos, fazemos parte
dessa confraria. Uma confraria ainda moderna? Ou ainda romântica?
Carlyle já tinha
consciências de que fazia o elogio de uma classe condenada de escritores. Diz
ele: “São antes as Tumbas de três Heróis Literários que tenho de mostrar a vocês.
Aqui estão os escombros monumentais sob os quais estão enterrados três heróis espirituais.
Muito fúnebre, mas também grande e cheio de interesse para nós.” [“It is rather the Tombs of three Literary
Heroes that I have to show you. There are the monumental heaps, under wich
three spiritual heroes lie buried. Very mournful, but also great and full or
interest for us”.] Podemos dizer que Pessoa jaz, hoje em dia, sob uma
montanha de comentários. Toda celebração é uma “Tumba”. É fúnebre, mas também
grande.
A conferência “The Hero as
Man of Letters” se encerra com esta espantosa metáfora:
Segundo
Richter, na ilha de Sumatra há uma espécie de lanterna [?], grandes pirilampos
que as pessoas prendem em espetos, para iluminar com eles o caminho, à noite.
Eles podem, assim, deslocar-se com uma agradável radiância, que podem admirar.
Honra seja feita aos Pirilampos!” [“Richter says, in the Island of Sumatra
there is a kind of ‘Light-chafers’, large Fire-flies, wich people stick upon
spits, and illuminate the ways with at night. Persons of condition can thus
travel with a pleasant radiance, wich they may admire. Great honor to the
Fire-flies!”].
O texto se encerra com uma
adversativa irônica: “Mas - !” [“But - !]. Podemos ler este “Mas -!” da
seguinte maneira: apesar de sua preciosa luminosidade, os grandes escritores
são desprezados, e mesmo sacrificados pela burguesia. No elogio do poeta como heróis
já havia o germe do ceticismo que encontraríamos mais tarde em seu leitor português.
As considerações de Carlyle
sobre os grandes escritores coincidem com suas ideias políticas conservadoras.
O elogio dos heróis literários é correlato ao elogio dos grandes homens, como
motores da História. Tendo pesquisado as várias fases da Revolução Francesa, e
escrito um extenso relato desta, Carlyle chegara à conclusão de que as revoluções
terminam em desordem e terror, e que o povo não é capaz de instalar uma
democracia. O mesmo ceticismo com relação às massas e ao operariado se
manifesta em vários pontos da obra de Pessoa. Até mesmo a defesa da escravatura
pelo historiador escocês, coerente com suas convicções elitistas, encontrou
algum eco na obra do poeta. Já tem sido demonstrado, por vários estudiosos, que
as ideias políticas de Pessoa são complexas, variadas ao longo do tempo e
frequentemente paradoxais. Mas algumas de suas posições são recorrentes, e
estas são as de um liberal individualista e aristocrático. Outros pensadores
ingleses contribuíram para esse ideário, mas não se pode descartar a influência
de Carlyle como uma das primeiras e mais persistentes.
Notas:
1 Tradução inédita da
comunicação apresentada no Colóquio “Fernando Pessoa, Influences, Dialogues, Responses”,
no King’s College de Londres, em dezembro de 2008. Publicado em Mariana Gray de
Castro (org.), Fernando Pessoa’s Modernity without Frontiers- Influences,
Dialogues, Responses, London, Boydel & Brewer Ltd., 2013.
2 Ver Alexandrino E.
Severino, Fernando Pessoa na África do Sul, Lisboa, Publicações Dom Quixote,
1983.
3 Thomas Carlyle, Sartor,
Resartus. Heroes Past and Present. London: Chapman and Hall, 1903.
4 Livro do desassossego,
org. Richard Zenith, São Paulo, Companhia das Letras, 1999, p. 155: “ ‘Qualquer
estrada’, disse Carlyle, ‘até esta estrada de Entepfuhl, te leva até o fim do
mundo’”; e p. 398: “Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te
levará até o fim do mundo”. Esta obra será doravante designada pela sigla LD.
[Carlyle: “Any road, this simple Entepfuhl road, will lead you to the end of
the world” (Sartor Resartus, Book 2, Chap. 2 “Idyllic”)].
5 Cito a partir da “Sterling
Edition” das Complete Works de Carlyle (escaneada no “Project Gutenberg”)
6 Pessoa, The Book of
Disquietude, tr. Richard Zenith, Manchester, Carcanet Press, 1991, p. 126. Esta
obra será doravante designada pela sigla BD.
7 Book of Disquiet, trad.
Richard Zenith, UK, Penguin, 2001, p. 249.
8 Idem, p. 261.
9 Charles Baudelaire, Edgar
Allan Poe, sa vie et ses ouvrages, in Oeuvres complètes, Paris, Seuil, 1968,
p.319 : « Il existe dans la littérature de chaque pays des hommes qui portent
le mot guignon écrit en caracteres mystérieux dans les plis sinueux de leur
front. »
10 “Edgar Poe, ivrogne,
pauvre, persécuté, paria, me plaît plus que calme et vertueux, un Goethe ou un
W. Scott » (idem, p. 336).
11 Idem, p. 347.
12 Walter Benjamin, Ein
Lyriquer im Zeitalter des Hochcapitalismus, Frankfurt am Main, Zurkampf Verlag,
1969 [Wlater Benjamin, Obras escolhidas III, Charles Baudelaire um lírico no
auge do capitalismo, trad. J.C. Martins Barbosa & H. Alves Baptista, São
Paulo, Brasiliense, 1989.]
13 Book of Disquiet, p. 130.
14 Johann Gottlieb Fichte,
Über das Wesen des Gelehrten (Sobre a natureza do homem de letras, Conferência 10).
15 Borges escreveu em algum
lugar: “Le tocó, como a todos, malos tiempos para vivir”.
16 Roland Barthes, La
préparation du roman I et II, Paris, Seuil-IMEC, 2003, p. 357. [A preparação do
romance 1 e 2, São Paulo, Martins Fontes, 2005, p. 313.]
(Ilustração: Almada Negreiros - Fernando Pessoa)
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