Quando às vezes escuto a música sombria
que ao ouvido me vem, qual “requiescat in pace”,
sinto a mágoa cruel de quem acreditasse
ser um pouco do que morreu no fim do dia.
A saudade, a amargura, a dúvida, a agonia
irrompem dentro em mim, num brusco desenlace,
e entre a dor que me fere e o som que me extasia
uma ideia, em meu ser contraditório, nasce.
A ideia de ser eu aquele por quem arde
a estrela que surgiu como um círio, na tarde.
Haverá quem nesta hora as coisas não confunda?
E vindo não sei de onde, e caminhando a esmo,
sob a minha visão, extática e profunda
lá vou eu conduzindo o enterro de mim mesmo.
(Ilustração: Zdzisław Beksiński)
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