Lá pelos recifes onde foram fazer pesca submarina havia os destroços do naufrágio de um vapor velho e mesmo com a maré alta as caldeiras de ferro enferrujado ainda apareciam à tona da água. Naquele dia o vento soprava para o sul, e Thomas Hudson ancorou ao abrigo de uma rocha, não demasiado perto, e Roger e os meninos aprontaram as máscaras e os arpões. Os arpões eram muito toscos e de vários tipos, feitos de acordo com as ideias pessoais de Thomas Hudson e dos meninos.
Joseph tinha vindo junto para remar o escaler. Levando Andrew consigo, dirigiu-se para os recifes, enquanto os outros escorregavam pela amurada para nadar.
- Você não vem? – gritou David ao pai, que havia ficado na segunda ponte de comando do barco de pesca. O círculo de vidro encobrindo os olhos, o nariz e a testa, com a armação de borracha que pressionava as faces, o nariz e a testa presa com firmeza na carne pela tira de borracha em torno da nuca, deixava-o semelhante às personagens de histórias pseudocientíficas em quadrinhos.
- Daqui a pouco eu vou.
- Não espere demais senão os peixes se assustam.
- Há recifes que cheguem. Vocês não vão esgotar tudo.
- Mas eu sei de duas tocas ali adiante, depois das caldeiras, que são uma maravilha. Descobri no dia em que viemos sozinhos. Estavam tão intatas e cheias de peixe que deixei pra quando a gente viesse todos juntos.
- Eu me lembro. Daqui a uma hora, mais ou menos, irei.
- Vou deixá-las pra quando você vier – disse David, e se pôs a nadar atrás dos outros, mão direita segurando a haste de quase dois metros de madeira dura, o arpão talhado à mão, de pontas gêmeas, fixo na extremidade e amarrado com um pedaço de corda de pescaria. Mantinha o rosto debaixo d’água, examinando o fundo pelo vidro da máscara enquanto nadava. Era um menino submarino e agora que estava tão queimado de sol e nadava apenas com a nunca molhada à mostra lembrava a Thomas Hudson mais do que nunca uma lontra.
Observou-o contornar o barco, usando o braço esquerdo e movendo as pernas compridas e os pés em lento impulso contínuo, erguendo ocasionalmente, e cada vez por mais tempo, por tempo muito maior do que era lícito esperar, o rosto meio de lado para respirar. Roger e o filho mais velho de Hudson tinham saído nadando de máscara na testa e já se achavam longe. Andrew e Joseph estavam no escaler junto da rocha, mas Andrew ainda não havia saltado pela amurada. O vento soprava de leve e a água perto dos recifes parecia clara e espumosa, com os pardos rochedos e o distante mar azul-escuro.
Thomas Hudson desceu à cozinha de bordo, onde Eddy descascava batatas em cima de um balde preso entre os joelhos. Espiava pela escotilha para o lado dos recifes.
- Os meninos não deviam dispersar-se – comentou ele. – Deviam ficar perto do bote.
- Você acha que é capaz de entrar alguma coisa por cima dos recifes?
- A maré está muito alta. Isso aí é maré de primavera.
- A água está tremendamente transparente – disse Thomas Hudson.
- O oceano está infestado de bichos ruins – disse Eddy. – Estas águas por aqui são um perigo se eles chegarem a sentir o cheiro desses peixes.
- Por enquanto ninguém pescou nada.
- Mas não demora vão pescar. Eles têm que botar esses peixes de uma vez dentro daquela canoa, antes que o cheiro de peixe ou de sangue seja levado pela maré.
- Vou dar um pulo até lá.
- Não. Diga pra eles ficarem bem juntos um do outro e guardarem os peixes na canoa.
Thomas Hudson subiu ao convés e gritou a Roger o que Eddy tinha dito. Roger levantou o arpão e acenou que havia entendido.
Eddy veio até a popa com a panela cheia de batatas numa mão e a faca na outra.
- Pegue aquela espingarda boa, a pequena, que é boa, e fique de olho aí em cima, Tom – disse ele. Não estou gostando disso. Não me agrada ver crianças lá longe com essa maré. A gente está muito perto do oceano verdadeiro.
- Vamos buscá-los.
- Não. Pode ser que seja só nervosismo meu. É que ontem tive uma noite ruim mesmo. Eu gosto deles como se fossem meus filhos e me preocupo muito com eles. – Largou a panela de batatas no chão. – Vou lhe dizer o que a gente vai fazer. Você liga o motor, eu puxo a âncora e depois a gente chega bem perto das pedras e atraca ali. Com essa maré e o vento, o barco arranca num instante. Vamos levá-lo pra lá.
Thomas Hudson ligou o possante motor e foi para a segunda ponte de comando, nos controles externos. À frente, enquanto Eddy levantava a âncora, podia vê-los agora todos dentro d’água e, nesse tempo, David surgiu à tona com um peixe se debatendo no arpão que mantinha no alto e Thomas Hudson ouviu-o chamando pelo escaler.
- Aponte bem em direção à rocha – gritou Eddy da proa, onde segurava a âncora.
Thomas Hudson avançou devagar até quase encostar na rocha, avistando as enormes saliências pardas de coral, os ouriços-cacheiros presos na areia e as algas roxas oscilando na maré em sua direção. Eddy suspendeu a âncora e Thomas Hudson deu marcha à ré. O barco girou, desviando-se do recife. Eddy amarou o cabo até retesar a corrente. Thomas Hudson desligou o motor e fundearam ali.
- Agora já dá pra gente ficar de olho neles – disse Eddy parado de pé na proa. – Não aguento preocupação com esses meninos. Estraga essa droga da minha digestão. Como se não bastasse o jeito ruim eu ela anda.
- Vou ficar aqui cuidando.
- Eu trago a espingarda e volto pra estas porcarias de batatas. Os meninos gostam de salada de batata, não é? Assim como a gente faz?
- Claro. Roger também. Ponha bastante ovo duro e cebola.
- Vou deixar as batatas bem boas. Aqui está a espingarda.
Thomas Hudson estendeu a mão para apanhá-la. Era volumosa e pesada no estojo forrado de lã de ovelha tosquiada que conservada sempre saturado de lubrificante para que não enferrujasse com a maresia. Retirou-a pelo cabo e guardou o estojo debaixo da coberta da segunda ponte de comando. Era uma Mannlicher Shoenauer calibre 256, de cano antigo de dezoito polegadas, cuja venda hoje estava proibida. A coronha e a parte dianteira tinham adquirido uma tonalidade castanha de tanto serem polidas e lubrificadas, e o cano, depois de ter roçado meses a fio na sela de cavalos, reluzia de óleo, sem uma mancha de ferrugem. A parte da culatra onde ele apoiava o rosto estava lustrosa, pelo uso, e quando ele puxou o ferrolho, o carregador surgiu cheio de grossos cartuchos pesados, a bala comprida e fina, revestida de metal em forma de lápis, expondo apenas uma minúscula ponta de chumbo.
Era realmente uma arma boa demais para se guardar num barco, mas Thomas Hudson se afeiçoara tanto àquela espingarda, que lhe lembrava tantas coisas, pessoas e lugares, que preferia tê-la consigo. Descobrira que no estojo de pele de ovelha, depois que a lã tosquiada já se achava bem impregnada de lubrificante, a arma não sofria dano algum com o ar salgado. Seja como for, pensava, uma espingarda é para dar tiros, não para ser preservada num estojo, e aquela era de fato uma das boas, de fácil manejo, excelente para aprender a atirar e útil no barco. Sempre se sentia mais seguro com ela quando queria disparar de distâncias curtas e médias do que com todas as outras que já possuíra. E agora se alegrava com o mero ato de retirá-la do estojo, puxar o ferrolho para trás e meter uma cápsula na culatra.
O barco pairava quase imóvel na maré e na brisa. Pendurou a bandoleira da arma numa das alavancas de controle externo, para tê-la bem à mão, e deitou-se no colchão ensolarado da ponte de comando. De bruços, para queimar as costas, avistava o lugar onde Roger e os meninos pescavam. Estavam todos mergulhados, conservando-se no fundo por espaços de tempo diversos, voltando à tona para respirar e logo desaparecer novamente, trazendo de vez em quando peixes nos arpões. Joseph remava entre um e outro, recolhendo os peixes das pontas dos arpões e largando-os dentro do escaler. Podia ouvi-lo gritando e rindo, e ver a cor viva dos peixes, vermelha ou vermelha salpicada de marrom, ou vermelha e amarela, ou listrada de amarelo, quando Joseph os arrancava dos arpões, jogando-os outra vez à sobra da popa do escaler.
- Eddy, quer trazer-me um drinque, por favor? – pediu Thomas Hudson pelo costado do barco.
- O que você quer?
Eddy esticou a cabeça para fora da cabina dianteira. Estava com o chapéu velho de feltro e uma camisa branca, e sob o sol brilhante tinha os olhos injetados de sangue. Thomas Hudson notou que ele havia passado mercurocromo nos lábios.
- O que você fez na boca? – perguntou-lhe.
- Uma espécie de encrenca ontem à noite. Só passei um pouco. Aparece muito?
- Deixa você parecendo uma puta do interior da ilha.
- Ah, porra – disse Eddy. – Passei no escuro, sem enxergar. Só pelo tato. Quer um drinque com água de coco? Tenho uns aqui.
- Ótimo.
- Quem sabe um Green Isaac’s Special?
- Muito bem. Prepare um Special.
Deitado ali no colchão, a cabeça de Thomas Hudson ficava na sombra projetada pela plataforma da extremidade dianteira da ponte, onde estavam os controles, e quando Eddy veio até a popa com o copo grande gelado, cheio de gim, suco de lima, água de coco verde, gelo picado e apenas a proporção exata de bíter de angustura para lhe dar aquele tom rosa-ferrugem, ele o manteve na sombra para que o gelo não derretesse enquanto ele olhava o mar.
- Parece que os meninos estão com sorte – disse Eddy. – Já tem peixe que chega pro jantar.
- Que mais vai ter?
- Purê de batata com peixe. Um pouco de tomate também. E aquela salada de batatas pra começar.
- Parece bom. Como vai a salada?
- A batata ainda não esfriou, Tom.
- Eddy, você gosta de cozinhar, não é?
- Se gosto! Gosto de andar de barco e de cozinhar. Não gosto é de discussão, briga e encrenca.
- Mas você sempre foi bom pra se meter em encrenca.
- Sempre evitei, Tom. Às vezes não dá pra evitar, mas sempre tento.
- O que houve ontem à noite?
- Nada.
Não queria falar naquilo. Nunca falava nos velhos tempos tampouco, quando tinha se metido em várias encrencas.
- Está bem. Que mais teremos para comer? Precisamos alimentar esses meninos. Eles estão crescendo.
- Trouxe um bolo que fiz em casa e tem dois abacaxis frescos no gelo. Vou partir em fatias.
- Ótimo. Como é que vai ser o peixe?
- Do jeito você quiser. Vamos esperar pra ver qual é o melhor que eles pegam, pra depois cozinhar como eles, você e o Roger quiserem. O David acabou de pegar um bom olho-de-boi. Tinha outro, mas ele o deixou escapar. Esse é grandão, todo mole. Mas ele está se distanciando mito. Ainda segura o peixe e o Joe está muito longe com a canoa, está perto do Andy.
Thomas Hudson largou o copo no chão e se pôs de pé.
- Caramba – exclamou Eddy. – Olhe só aquilo ali!
Aparecendo ao longe no mar azul, feito uma vela parda de embarcação e cortando a superfície em veloz investida impelida pelo rabo, a alta barbatana dorsal vinha chispando em direção ao barco à beira do rochedo onde o menino de máscara no rosto segurava um peixe fora d’água.
- Minha nossa – disse Eddy. – Que cação mais filha da puta. Puxa vida, Tom. Santo Deus.
Mais tarde Thomas Hudson lembrou que a primeira impressão que teve foi da grande altura da barbatana, do modo como ela mudava de direção, como um cão de caça rastreando a presa, e como parecia avançar feito uma tesoura e no entanto hesitar.
Levantou a espingarda e atirou bem na frente da barbatana. O tiro disparou e lançou um esguicho d’água. O cano estava pegajoso de óleo. O peixe continuou avançando em curvas, sem parar.
- Jogue pra ele essa droga de peixe – gritou Eddy a David, recuando de um salto e descendo depressa para a cabina.
Thomas Hudson atirou de novo e errou, com outro esguicho d’água na retaguarda. Sentiu uma náusea no estômago, como se alguma coisa o estivesse apertando e espremendo por dentro, e tornou a atirar com toda a firmeza e cuidado possível, sabendo perfeitamente a importância do tiro, e o esguicho d'água jorrou à frente da barbatana. Ele prosseguia em seu caminho com a mesma pertinácia horrenda. Agora só lhe restava uma bala, não tinha cartuchos extras, e o tubarão se achava a cerca de trinta metros do menino, adiantando-se no mesmo movimento cortante. David arrancara o peixe do arpão e o segurava na mão, com a máscara no alto da testa, sem tirar os olhos do tubarão já próximo.
Thomas Hudson procurou manter-se calmo mas firme, lutando para prender a respiração e não pensar em nada além do tiro; para comprimir e acertar a apenas um átimo de distância da base da barbatana, que agora avançava mais sinuosamente do que antes. Nisso ouviu a metralhadora portátil abrindo fogo da popa e viu a água começar a esguichar ao redor da barbatana. Tornou a ouvir uma curta rajada e a água espirrou numa área mais compacta bem na base da barbatana. Quando atirou, ouviu outra vez a descarga, rápida e tensa. A barbatana mergulhou, provocando uma ebulição na superfície, e depois o maior cação que jamais vira ergueu a barriga branca fora do mar e começou a retorcer-se loucamente à tona, de costas, espalhando água como um esqui aquático. A barriga reluziu com um branco obsceno, a boca de um metro de largura contorcida numa espécie de sorriso, as grandes trompas da cabeça com os olhos na ponta, esbugalhados, ao descrever um salto e deslizar para baixo d’água, enquanto a metralhadora de Eddy retinia e rompia a alvura da barriga com manchas pretas que avermelharam antes que girasse para submergir e Thomas Hudson pudesse vê-lo mergulhando em lenta espiral.
- Chame esses meninos desgraçados pra cá – escutou Eddy gritar. – Não aguento esse tipo de coisa.
Roger tinha nadado depressa em direção a David, e Joseph estava puxando Andy para dentro do escaler e depois remando para perto dos outros dois.
- Puta que o pariu – exclamou Eddy. – Já se viu cação desse tamanho? Graças a Deus que eles aparecem na superfície quando querem pegar alguém. Graças a Deus. Os miseráveis sempre vêm à tona. Viu como ele afundou?
- Me dê uma caixa de cartuchos – pediu Thomas Hudson. Estava trêmulo e sentia uma fraqueza no estômago. – Voltem pra cá – gritou.
Nadavam em torno do escaler e Roger puxava David para cima da amurada.
- Agora eles podem pescar – disse Eddy. – Qualquer tubarão no oceano só vai querer saber dele. O oceano em peso vai cair em cima dele. Viu como ele virou de costas, Tom, e depois deu aquele salto desgraçado? Nossa mãe, que cação. E o menino pronto pra jogar o peixe pra ele? Só o meu David, mesmo. Ah, que colosso esse Davy.
- É melhor eles voltarem.
- Lógico que é melhor. Falei só por falar. Eles vão voltar. Não se impressione que eles voltam.
- Santo Deus, que coisa terrível. Onde é que você tinha guardado a metralhadora?
- O delegado começou a implicar comigo porque eu estava com ela lá em casa, por isso guardei-a aqui no paiol, embaixo do meu beliche.
- Não há dúvida de que você sabe lidar com ela.
- Porra, e não haveria de saber, com aquele tubarão vindo zunindo pra cima do meu Davy, esperando lá, quietinho, pronto pra jogar aquele peixe? Olhando firme pra onde o tubarão vinha vindo? Porra, por mim podia ser a última coisa que eu havia de enxergar nesta bosta de vida.
O escaler se aproximou da lancha e eles subiram pelo costado. Os garotos estavam molhados e animadíssimos. Roger parecia muito abalado. Dirigiu-se a Eddy e apertou-lhe a mão.
- A gente nunca deveria ter deixado que eles saíssem com essa maré – disse Eddy.
Roger sacudiu a cabeça e passou o braço pelo ombro de Eddy.
- A culpa foi minha – insistiu Eddy. – Eu nasci aqui. O senhor é de fora. Não podia saber. Eu é que sou o responsável.
- Você se comportou à altura – disse Roger.
- Porra – retrucou Eddy. – Como é que alguém ia errar àquela distância?
- Você chegou a vê-lo, Dave? – perguntou Andrew, com toda a delicadeza.
- Só a barbatana dele até bem quase no fim. Depois pude ver antes do Eddy acertar nele. Ele mergulhou e aí então apareceu de costas.
Eddy estava esfregando-o com uma tolha e Thomas Hudson viu que tinha a pele ainda arrepiada nas pernas, costas e ombros.
- Nunca vi nada semelhante àquilo, quando ele saiu da água e começou a virar de lado – afirmou Tom Jr. – Nunca vi nada no mundo parecido com aquilo.
- Você não verá muita coisa igual a essa – retrucou o pai.
- Devia pesar mais de meia tonelada – disse Eddy. – Acho que nem existe cação maior do que esse. Caramba, Roger, você viu a barbatana que ele tinha?
- Vi, sim – respondeu Roger.
- Será que não dá pra gente ir buscá-lo? – perguntou David.
- Claro que não, porra – disse Eddy. – Ele afundou girando sem parar sabe lá até onde. Está a umas oitenta braças de profundidade e o oceano em peso vai se banquetear. A estas horas já tão caindo em cima dele.
- Eu gostaria que a gente pudesse ir buscá-lo – insistiu David.
- Calma, menino. Você ainda está com a pele toda arrepiada.
- Você sentiu muito medo, Dave? – perguntou Andrew.
- Senti, sim – confessou David.
- Que é que você ia fazer? – perguntou Tom, cheio de respeito.
- Ia jogar o peixe pra ele – respondeu David, e enquanto Thomas Hudson o observava, a pequena erupção aguda de arrepio se espalhou pelos ombros. – Depois ia bater com o arpão bem no focinho dele.
- Ora essa – disse Eddy, afastando-se com a toalha. – O que você vai tomar, Roger?
- Não tem um pouco de cicuta? – indagou Roger.
- Não amole, Roger – respondeu Thomas Hudson. – Todos nós fomos responsáveis.
- Irresponsáveis.
- Está tudo terminado.
- Muito bem.
- Vou preparar um gim – disse Eddy. – O Tom estava bebendo um quando o negócio aconteceu.
- Ainda está lá em cima.
- Agora já deve ter ficado uma droga – disse Eddy. - Vou fazer um novo.
- Você se saiu muito bem, Davy – afirmou Tom Jr., todo orgulhoso. – Espere até eu contar isso aos rapazes no colégio.
- Não vão acreditar – disse David. – Não conte pra eles, se eu for pra lá.
- Por quê? – estranhou Tom Jr.
- Sei lá – respondeu David. E de repente rompeu a chorar feito uma criança. – Ah, merda, eu não suportaria se não acreditassem.
Thomas Hudson tomou-o nos braços, segurando-lhe a cabeça contra o peito. Os outros meninos viraram o rosto. Roger desviou o olhar e depois Eddy surgiu com três drinques, o polegar enfiado num dos copos. Thomas Hudson notou logo que ele havia bebido na cozinha.
- O que é que há com você, Davy? – perguntou.
- Nada.
- Ótimo – disse Eddy. – Assim é que eu gosto de ouvir você falar, seu desgraçado filho da mãe. Vá lá pra baixo, pare de choramingar e deixe o seu velho beber.
(As ilhas da corrente; tradução de Milton Persson)
(Ilustração: foto Fabien Michenet)
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