“- És bela” – disse o homem descendo-lhe as mãos pelo corpo despido e exposto na cama, uma das pernas recuada, a outra estendida ao longo dos lençóis.
“- És bela” – tornou o homem a contornar-lhe os seios com os dedos, reparando nos lábios crispados debaixo dos seus e o nojo profundo e ácido refletido nos olhos dela.
“- Gosto dos teus cabelos, do teu ventre côncavo, das tuas ancas magras, dos teus braços, das tuas coxas, do teu cheiro, da tua língua. Gosto que tenhas nojo mas que venhas comigo para a cama”.
Debruçou-se então, a percorrê-la com a boca como se a tentasse respirar, deixando-lhe na pele a cicatriz molhada da saliva; voraz, o corpo amolecido tentando ganhar forma, dureza, no da mulher que se debatia, todavia imóvel, hirta. Que se debatia.
Mônica pensou: “eu enlouqueço”.
Mônica pensou: “eu enlouqueço”.
O homem queria o terreno macio da sua carne e com beijos espessos devorava-lhe a frescura, bebia-lhe a a fragilidade estática do pescoço e do gesto breve, a fim de o deter. Num movimento brusco prendeu-lhe os pulsos estreitos sobre os lençóis.
Petrificada, Mônica sentiu que ele começa a entrar nela, devagar primeiro, o seco ainda mole, indeciso na sua meia impotência, depois mais grosso e quente, impaciente, inábil. Um pênis pequeno, atrofiado, dentro da sua vagina funda, macia, de fêmea larga pelo amor e lutas e profundos espasmos.
Ele via-lhe os olhos fixos, duros, ácido como pedras transparentes, de um azul translúcido, raro, de água ou de mar, mas principalmente: ásperos, inflexíveis.
Mônica via os olhos do homem, congestionados, pequenos, de um castanho raiado de amarelo sujo, perdidos nos seus.
Mônica ouvia os gemido do homem cada vez que ia e vinha dentro de si.
Sentia o suor peganhento do homem e a flacidez da barriga que espasmodicamente se espalmava nas suas ancas e no seu ventre.
Então o nojo soltou-se, como uma mola; trepou avassalador, escaldante: uma altíssima vaga a coser-se-lhe na garganta, concentrando-se aí num vômito que engoliu, entontecida, nauseada.
O homem esforçava-se por acabar, exausto, o sexo perdido dentro daquela vagina seca, hostil, inóspita. Esforçava-se, naquela carne esponjosa, raivosamente, as mãos espalmadas na cama. Depressa, depressa, num movimento pendular ia e vinha, rápido, a apressar o orgasmo preso nos testículos vazios, sem esperma.
Mônica pensou: “eu enlouqueço”.
Mônica pensou: “eu enlouqueço”.
desde o princípio a pensar no marido e no amor e no desejo dele e na paixão por ele que não se calava e não se calava nunca, num enorme grito.
Mônica gritou:
devagar, intermitentemente. Um monstruoso grito como uma monstruosa e lancinante dor.
Perdido naquele grito, o homem excitou-se, fincou-se na mulher, obrigou-a a virar-se de costas e de joelhos firmes, os dedos cravados nos seios pendentes, forçou-lhe o ânus onde entrou rasgando-a, em gozo, vindo-se logo, enchendo-a com o seu leite aguado e morno. E aí se excitou e se veio de novo a vingar-se dela; lambuzando-lhe com o sexo, em seguida, a boca cerrada a dar-lhe a conhecer o gosto da sua vitória.
Mônica esperou que ele adormecesse. Escutou-lhe o respirar, atenta, depois, lentamente, cuidando cada movimento, agarrou uma almofada, tapou-lhe a cara e com toda a sua força desesperada apoiou-se nela defendendo-se dos convulsivos braços do homem; deitando-se-lhe sobre o corpo, as suas pernas detiveram as pernas que a tentavam derrubar e assim estiveram unidos até deixar de o sentir mover e mesmo depois, desse modo, horas estirada no corpo já frio, a dormir, descansando a cabeça na almofada em cima da cara dele.
(Novas Cartas Portuguesas)
(Ilustração: Anthony Christian – beautiful flowers)
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