segunda-feira, 18 de novembro de 2024

LO QUE SIENTE LA MANO / O QUE SENTE A MÃO, de Idea Vilariño

 


 

Lo que siente la mano

lo que carga

que sostiene

no es mi frente mi piel mi inteligencia

es el hueso gentil

la calavera

con sus tibios disfraces

con sus órbitas

por el momento llenas

con la suelta mandíbula que un día

remedará la risa

ese día en que deje tirados por ahí

mi esqueleto liviano

mi cráneo regular

y quede yo

mis labios y mis pies

mi pelo mis mejillas

mis ojos mi color

y todo lo que fui

lentamente

obviamente

pudriéndose

pudriéndose

volviéndose ceniza.

 

Tradução de Priscilla Campos:

 

O que sente a mão

o que carrega

segurando

não é minha testa minha pele minha inteligência

é o osso gentil

a caveira

com seus disfarces mornos

com suas órbitas

por um momento cheias

com a mandíbula solta que um dia

imitará a risada

naquele dia em que deixei abandonado por aí

meu esqueleto leviano

meu crânio regular

e eu fico

meus lábios e meus pés

meu cabelo minha bochecha

meus olhos minha cor

e tudo que eu fui

devagar

obviamente

apodrecendo

apodrecendo

virando cinza.

 

(Nocturnos, 1955)

 

(Ilustração: Alyssa Monks)

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