Uma irmãzinha meiga que nos cubra
a todos com a quentura terna e gostosa
do seu carinho...
que entorne toda a sua claridade
sobre as nossas tristes cabeças vergadas
e, como um feitiço forte e misterioso,
nos afugente as raivas fundas e dolorosas
de revoltados,
com a sua morna carícia de veludo...
sua enorme mão,
luminosamente branca, consegue-nos tudo.
E sob o seu feitiço potente, serenamos.
E pouco a pouco, momento a momento,
Sossegando vamos...
Fechando nossos olhos pacientes de esperar,
Já podemos vogar no mar
Parado dos nossos sonhos cansados...
E até podemos cantar!
Até podemos cantar o nosso lamento...
De olhos para dentro, para dentro de nós,
Sentimo-nos novamente humanos,
Somos nós novamente,
E não brutos e cegos animais aguilhoados...
Sim. Nós cantamos amorosamente
A lua amiga que é nossa irmã.
– Embora nos repitam que não,
nós o sentimos fundo no coração...
(que bem vemos
que no seu largo rosto de leite há sorrisos brandos de doçura
para nós, seus irmãos...)
só não compreendemos
como é que, sendo tão branca a nossa irmã,
nos possa ser tão completamente cristã,
se nós somos tão negros, tão negros,
como a noite mais solitária e mais desoladamente escura...
(In notícias, 07.03.1958, página “Moçambique 58”)
(Ilustração: John Madu - City Girls on rousseaus beach)
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