Textos, apenas textos, literários e poéticos, históricos e filosóficos, dramáticos e humorísticos; narrativos, descritivos ou dissertativos; de autores de todos os cantos do mundo...
quinta-feira, 30 de junho de 2022
“DORMIR É PARA OS FRACOS”, de Jonathan Crary
segunda-feira, 27 de junho de 2022
КОНЬ ПРЖЕВАЛЬСКОГО / O CAVALO DE PRJEVÁLSKI *, de Велимир Хлебников / Vielimir Khlébnikov
Гонимый кем - почем я знаю?
Вопросом поцелуев в жизни сколько?
Румынкой, дочерью Дуная,
Иль песнью лет про прелесть польки,
Бегу в леса, ущелья, пропасти
И там живу сквозь птичий гам
Как снежный сноп сияют лопасти
Крыла сверкавшего врагам.
Судеб виднеются колеса
С ужасным сонным людям свистом.
И я как камень неба несся
Путем не нашим и огнистым
Люди изумленно изменяли лица
Когда я падал у зари.
Одни просили удалиться
А те молили: озари
Над юга степью, где волы
Качают черные рога,
Туда, на север, где стволы
Поют как с струнами дуга,
С венком из молний белый черт
Летел, крутя власы бородки:
Он слышит вой власатых морд
И слышит бой в сквородки.
Он говорил: "Я белый ворон, я одинок,
Но все и черную сомнений ношу
И белой молнии венок
Я за один лишь призрак брошу,
Взлететь в страну из серебра,
Стать звонким вестником добра".
У колодца расколоться
Так хотела бы вода,
Чтоб в болотце с позолотцей
Отразились повода.
Мчась как узкая змея
Так хотела бы струя,
Так хотела бы водица,
Убегать и расходиться,
Чтоб ценой работы добыты,
Зеленее стали чоботы,
Черноглазые, ея.
Шопот, ропот, неги стон,
Краска темная стыда
Окна, избы, с трех сторон,
Воют сытые стада.
В коромысле есть цветочек,
А на речке синей челн.
"На возьми другой платочек,
Кошелек мой туго полн".
"Кто он, кто он, что он хочет,
Руки дики и грубы!
Надо мною ли хохочет
Близко тятькиной избы".
"Или? или я отвечу
Чернооку молодцу,
О сомнений быстрых вече,
Что пожалуюсь отцу?
Ах юдоль моя гореть!"
Но зачем устами ищем,
Пыль гонимую кладбищем,
Знойным пламенем стереть?
И в этот миг к пределам горшим
Летел я сумрачный как коршун.
Воззреньем старческим глядя на вид земных шумих.
Тогда в тот миг увидел их.
[1912]
Tradução Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman:
Perseguido - Por alguém? Que sei? Não cuido.
Pela pergunta: uma vida, ... e beijos, quantos?
Pela romena, dileta do Danúbio,
E a polonesa, que os anos circuncantam.
- Fujo pata brenhas, penedias, gretas,
Vivo entre os pássaros, álacre alarido.
Feixe-de-neve é o revérbero de aletas
De asas que brilharam para os inimigos.
Eis que se avistam as rodas dos fadários,
Zunido horrível para a grei sonolenta.
Mas eu voava como roca estelária
Por ígneas, não nossas, ignotas sendas.
E quando eu tombava próximo da aurora
Os homens no espanto mudavam a face,
Estes suplicavam que eu me fosse embora,
Outros me rogando: que eu iluminasse.
Para o sal, para as estepes, onde os touros
Pastam balouçando chifres cor de treva,
E para o norte, para além, onde os troncos
Cantam como arcos de cordas retesas,
Coroado de coriscos o demônio
Voava, gênio branco, retorcendo a barba.
Ele ouve os uivos de hirsutas carantonhas
E o repicar das frigideiras de alarma.
"Sou corvo branco - dizia - e solitário,
Porém tudo, o lastro negro dos dilemas,
A alvinitente coroa de meus raios,
Tudo eu relego por um fantasma apenas:
Voar, voar, para os páramos de prata,
Ser mensageiro do bem, núncio da graça."
Junto ao poço se estilhaça
A água, para que os couros
Do arreio, na poça escassa,
Reflitam-se com seus ouros.
Correndo, cobra solerte,
O olho-d'água e o arroio
Gostariam, pouco a pouco,
De fugir e dissolver-se.
Que assim, tomadas a custo,
As botas de olhos escuros
Dela, ficassem mais verdes.
Arrolos, langor, desmaios,
A vergonha com seu tisne,
Janela, isbá, dos três lados
Ululam rebanhos pingues.
Na vara, baldes e flor,
No rio azul uma balsa.
"Toma este lenço de cor,
Minha algibeira está farta."
"Quem é ele? Que deseja?
Dedos rudes, mãos de fera!
É de mim que ele moteja
Rente à choupana paterna?
Que respondo, que contesto,
Ao moço dos olhos negros?
Cirandam dúvidas lestas!
E ao pai, direi meu segredo?"
'`É minha sina! Me abraso!"
Por que buscamos, com lábios,
O pó, varrido das tumbas,
Apagar nas chamas rubras?
Eis que para os píncaros extremos
Ergo voo como o abutre, sinistro:
Com mirada senil considero o bulício terreno
Que, naquele instante, eu diviso.
[1912]
[*] Este título, que se consagrou, parece que não foi dado pelo poeta, mas pelo seu amigo David Burliuk. Segundo informação da Enciclopédia Britânica, o cavalo de Prjeválski é a única espécie conhecida de cavalo selvagem; foi descoberto por M. M. Prjeválski, explorador russo da Ásia Central.
(Poesia Russa Moderna)
(Ilustração: Przewalski's Horse found at the Toronto Zoo)
sexta-feira, 24 de junho de 2022
EPSTEIN, de Philip Roth
(Ilustração: Lucian Freud (Berlim, 8.12.1922 - Londres, 20.7.2011) - Ib and her husband)
terça-feira, 21 de junho de 2022
IN GALLERIA / NA GALERIA, de Giuseppe Ungaretti
Un occhio di stelle
ci spia da quello stagno
e filtra la sua benedizione ghiacciata
su quest’acquario
di sonnambula noia
Tradução Haroldo de Campos:
Um olho de estrela
nos espia daquele tanque
e filtra sua bênção gelada
sobre este aquário
de tédio sonâmbulo
(Daquela estrela à outra)
(Ilustração: Manabu Mabe, 1994)
sábado, 18 de junho de 2022
ARTE, MÚSICA, POEMAS E HISTÓRIAS: CRIANÇAS PRECISAM DISSO?, de Philip Pullman
quarta-feira, 15 de junho de 2022
BEER / CERVEJA, de Charles Bukowski
I don’t know how many bottles of beer
I have consumed while waiting for things
to get better
I don’t know how much wine and whisky
and beer
mostly beer
I have consumed after
splits with women—
waiting for the phone to ring
waiting for the sound of footsteps,
and the phone to ring
waiting for the sounds of footsteps,
and the phone never rings
until much later
and the footsteps never arrive
until much later
when my stomach is coming up
out of my mouth
they arrive as fresh as spring flowers:
“what the hell have you done to yourself?
it will be 3 days before you can fuck me!”
the female is durable
she lives seven and one half years longer
than the male, and she drinks very little beer
because she knows it’s bad for the figure.
while we are going mad
they are out
dancing and laughing
with horny cowboys.
well, there’s beer
sacks and sacks of empty beer bottles
and when you pick one up
the bottle fall through the wet bottom
of the paper sack
rolling
clanking
spilling gray wet ash
and stale beer,
or the sacks fall over at 4 a.m.
in the morning
making the only sound in your life.
beer
rivers and seas of beer
the radio singing love songs
as the phone remains silent
and the walls stand
straight up and down
and beer is all there is.
Tradução de Raphael Soares:
Eu não sei quantas garrafas de cerveja
bebia enquanto aguardava as coisas
ficarem melhor
Eu não sei quanto vinho e whisky
e quantas cervejas
principalmente cerveja
bebia após
me trocar com mulheres—
aguardando o telefone tocar
aguardando o som dos passos,
e o telefone tocar
aguardando o som dos passos,
e o telefone nunca toca
até bem depois
e os passos nunca chegam ao destino
até bem depois
quando meu estômago pula para
fora da minha boca
elas chegam frescas como as flores da primavera:
“que porra fizeste contigo mesmo?
faltam 3 dias antes que possas me fuder!”
a fêmea é durável
ela vive sete anos e meio mais
que homens, e bebe menos cerveja
porque ela sabe que faz mal às aparências.
Enquanto ficamos doidos
elas estão fora
dançando e rindo
com cowboys tarados.
bem, aqui há cerveja
sacos e sacos de garrafas vazias de cerveja
e quando sacas uma
a garrafa cai pelo fundo molhado
do saco de papel
rolando
tilintando
derramando cinzas úmidas
e cerveja choca,
ou os sacos caem às 4:00
da manhã
fazendo o único som em sua vida.
cerveja
rios e mares de cerveja
a rádio cantando canções de amor
enquanto o telefone permanece silente
e as paredes permanecem
subindo e descendo
e a cerveja é tudo o que há.
(Ilustração: Edouard Manet - Women drinking beer)
domingo, 12 de junho de 2022
TOMAI A RESOLUÇÃO DE NÃO MAIS SERVIRDES E SEREIS LIVRES, de Étienne de la Boétie
quinta-feira, 9 de junho de 2022
ODI ET AMO / ODEIO E AMO (POEMA 85), de Catulo
Odi
et amo. Quare id faciam, fortasse requiris.
Nescio,
sed fieri sentio et excrucior.
Tradução
de João Ângelo Oliva Neto:
Odeio
e amo. Talvez queiras saber "como?"
Não
sei. Só sei que sinto e crucifico-me.
(O
livro de Catulo)
Tradução
de Pedro Mohallem:
Amodeio.
Da causa não me valho:
Só
sei que dói ― e, ai, dói pra c******.
Tradução
de Wagner Schadeck:
Odeio e amo. Perguntas-me a razão.
Não
sei. Mas sinto aflito o coração.
Tradução
de Décio Pignatari:
Odeio
e amo. Como assim?
Não
sei: só sinto e me-torturo-me
(31
poetas, 314 poemas)
Tradução
de Guilherme Gontijo Flores:
odeio
e
amo
por quê?
você pergunta
não
sei ― só sinto acontecer
e crucifico-me
(Revista
Germina, Catulices)
Tradução
de Guilherme Gontijo Flores:
Amo,
odeio. Por que o faço? você me pergunta.
Nunca
sei e se faz: sinto me crucificar.
(Terceira
Margem, v. 21, n. 35, 2017)
Tradução
de Leonardo Antunes:
Amo
e odeio. Por que faço assim tu talvez me perguntes.
Eu
desconheço. Porém, sinto fazer-se e excrucio-me.
Tradução
(intradução) de Augusto de Campos:
Traduções
de Nelson Ascher:
[maio/2015]
Odeio
e amo. Dentro é uma batalha.
Por
quê? Sei lá. Mas dói. E me estraçalha.
Odeio
e amo. E nada há que me valha.
Sinto
o que sinto. Dói. E me estraçalha.
Odeio
e amo. Como assim? Mistério.
Cravado
em minha cruz me dilacero.
Odeio
e amo. Como assim? Sei lá!
Sinto
o que sinto. E a dor me dilacera.
Odeio
e amo. Quanto ao porquê disso –
sei
lá. Sinto o que sinto. E é só suplício.
Odeio
e amo. E ignoro o porquê disso.
Sei
o que sinto. E sinto que é um suplício.
Odeio
e amo. — Indagam como posso.
Sei
lá. Sinto o que sinto. E sei que sofro.
[set.
2016]
Odeio
e amo. -- É pior do que navalha
na
carne. Dói demais e me estraçalha.
Odeio
e amo. -- Dói que nem navalha
na
carne, sei lá como, e me estraçalha.
[fev.
2018]
Odeio
e amo. — Dentro é uma batalha.
Sei
lá. Sinto o que sinto e me estraçalha.
[fev.
2018]
Odeio
e amo. — Dói. — É uma navalha
na
carne que eu só sei que me estraçalha.
*
[jan.
2019]
Amo
e odeio. — Aqui dentro é uma batalha.
Sei
lá como ou por que, mas me estraçalha.
Tradução
de António Feliciano de Castilho:
Amo
e odeio ao mesmo tempo.
Como
pode ser? (perguntas)
Duas
coisas tão opostas
Ao
mesmo tempo tão juntas?
Como
pode ser ignoro;
Sei
o que sinto, a causa és tu,
E
sei que é tão cru o tormento,
Que
o não pode haver mais cru.
(O
livro de Catulo)
Tradução
de José Paulo Paes:
Odeio
e amo. Quiçá queiras saber por quê:
ignoro,
mas sinto que acontece, e sofro.
(Gaveta
de tradutor)
(Ilustração: Paul Bond - The Ilusion Of Love Disturbance)