Ia o noivo co’ a noiva muito airoso,
Ia a noiva co’ o noivo muito airosa;
Ela à vista do noivo melindrosa,
Ele à vista da noiva melindroso.
O noivo com o cravo ia cheiroso,
A noiva como escrava ia cheirosa;
Ela por certo que ia mui formosa,
Ele por certo que ia mui formoso.
A gente de pasmada ficou muda,
Quando viu ir o noivo tão sisudo,
Quando viu ir a noiva tão sisuda.
Vendo que, por desastre ou por descudo,
De galas ia a noiva mui pontuda,
De galos ia o noivo mui pontudo.
(*) Este soneto encontra-se na Biblioteca da Ajuda, no manuscrito 49-III--52, p. 70v. Transcrevemo-lo atualizando a grafia e a pontuação. Mantivemos apenas a palavra “descudo” na sua forma original, por exigências de rima, considerando a supressão da vogal i do ditongo uma liberdade poética a que se dá o nome de síncope.
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