Pitôco era um cachorrinho
Qu’eu ganhei do meu padrinho
Numa noite de Natá:
Era esperto, bem ativo,
Tinha dois zóio bem vivo
Sartano de lá pra-cá.
Deminhã cedo, quando me levantava,
Pitôco é que me acordava
C’os latido, sem pará,
Me fazia tanta festa,
Me lambia minha testa,
Chegava inté me bêjá.
E domingo, bem cedinho,
Eu pegava o meu bodoquinho,
Os pelote no emborná,
Pitôco corria na frente,
Dano sarto de contente,
Rolando nos capinzá.
Era domingo de méis
Dia de Santa Inêis:
Tinha festa no arraiá.
Minha mãe, co’as criançada
Tudo de rôpa trocada,
Na capela foi rezá;
Eu, fugino por uma estrada
Com Pitôco fui caçá.
Hoje, dói a minha conscência,
Da minha desobidiência.
Em não podê le sarvá.
Pitôco latia... latia,
De tanta alegria,
Sem nada podê cismá;
Eu tacava um pelote,
Fazendo virá cambóte
Um pobre cará-cará.
De repente – fiquei co’arma fria...
Gritei pr’a Virge Maria,
Que pudia me sarvá.
Uma urutu das dorada,
Num gaio dipindurada
Tava pronta pra sartá!
Pitôco... fico arripiado,
Ficô c’o zóio vidrado
I deu um sarto mortá:
Se cumbateu c’a serpente,
Arrepicô tuda de dente,
Mas num pôde se escapá.
Pitôco morreu latindo,
O seu zoinho tão lindo,
Foi fechano devagá;
Parecia inté que ria
Da minha patifaria
De num podê lhe sarvá.
E nesse mundo tão ôco,
Onde os amigo são pôco,
Dispois que morreu Pitôco
Nunca mais achei ôtro iguá!
(Ilustração: Leonid Afremov - lovely dog)
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