quinta-feira, 4 de março de 2021

FEMME NUE, FEMME NOIRE... / MULHER NUA, MULHER NEGRA, de Léopold Sédar Senghor

 



Femme nue, femme noire

Vétue de ta couleur qui est vie,

de ta forme qui est beauté

J'ai grandi à ton ombre;

la douceur de tes mains bandait mes yeux

Et voilà qu'au coeur de l'Eté et de Midi,

Je te découvre, Terre promise,

du haut d'un haut col calciné

Et ta beauté me foudroie en plein coeur,

comme l'éclair d'un aigle



Femme nue, femme obscure

Fruit mûr à la chair ferme,

sombres extases du vin noir, bouche qui fais

lyrique ma bouche

Savane aux horizons purs,

savane qui frémis aux caresses ferventes du Vent d'Est

Tamtam sculpté,

tamtam tendu qui gronde sous les doigts du vainqueur

Ta voix grave de contralto est le chant spirituel de l'Aimée



Femme noire, femme obscure

Huile que ne ride nul souffle,

huile calme aux flancs de l'athlète, aux

flancs des princes du Mali

Gazelle aux attaches célestes,

les perles sont étoiles sur la nuit de ta peau.

Délices des jeux de l'Esprit,

les reflets de l'or ronge ta peau qui se moire

A l'ombre de ta chevelure,

s'éclaire mon angoisse aux soleils prochains

de tes yeux.



Femme nue, femme noire

Je chante ta beauté qui passe,

forme que je fixe dans l'Eternel

Avant que le destin jaloux

ne te réduise en cendres pour nourrir les

racines de la vie.



Tradução de Leo Gonçalves:




mulher nua, mulher negra

vestida de tua cor que é vida, de tua forma que é beleza!

eu cresci à tua sombra;

a doçura de tuas mãos vendava meus olhos.

e eis que no ventre do verão e do meio-dia,

eu te descubro, terra prometida,

do alto de um alto colo calcinado

e tua beleza me acerta em pleno peito,

como o relâmpago de uma águia.



mulher nua, mulher obscura

fruto maduro de carne firme,

sombrios êxtases do vinho negro,

boca que bota lírica a minha boca.

savana dos horizontes puros,

savana que freme às carícias quentes do vento leste

atabaque esculpido,

atabaque tenso que rosna sob os dedos do vencedor

tua voz grave de contralto é o cântico espiritual da amada.



mulher nua, mulher obscura

azeite que não crispa nenhum sopro,

azeite plácido nos flancos do atleta,

nos flancos dos príncipes do mali

gazela de laços celestes,

as pérolas são estrelas sobre a noite de tua pele

gozo de jogos espirituosos,

os reflexos do ouro rubro sobre tua pele que rebrilha

à sombra de teus cabelos, se esclarece minha angústia

aos sóis próximos de teus olhos.



mulher nua, mulher negra

eu canto tua beleza que passa,

forma que fixo no eterno

antes que o destino cioso

te reduza a cinzas para nutrir as raízes da vida.



Tradução de Guilherme de Souza Castro:



Mulher nua, mulher negra

Vestida de tua cor que é vida, de tua forma que é beleza!

Cresci à tua sombra; a doçura de tuas mãos acariciou os meus olhos.

E eis que, no auge do verão, em pleno Sul, eu te descubro,

Terra prometida, do cimo de alto desfiladeiro calcinado,

E tua beleza me atinge em pleno coração, como o golpe certeiro

de uma águia.

Fêmea nua, fêmea escura.

Fruto sazonado de carne vigorosa, êxtase escuro de vinho negro,

boca que faz lírica a minha boca

savana de horizontes puros, savana que freme com

as carícias ardentes do vento Leste.

Tam-tam escultural, tenso tambor que murmura sob os dedos

do vencedor

Tua voz grave de contralto é o canto espiritual da Amada.

Fêmea nua, fêmea negra,

Lençol de óleo que nenhum sopro enruga, óleo calmo nos flancos do atleta,

nos flancos dos príncipes do Mali.

Gazela de adornos celestes, as pérolas são estrelas sobre

a noite da tua pele.

Delícia do espírito, as cintilações de ouro sobre tua pele que ondula

à sombra de tua cabeleira. Dissipa-se minha angústia,

ante o sol dos teus olhos.

Mulher nua, fêmea negra,

Eu te canto a beleza passageira para fixá-la eternamente,

antes que o zelo do destino te reduza a cinzas para

alimentar as raízes da vida.



(Ilustração: Odette Dalpé)

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