Criaste um demônio
ao pousar em mim teus olhos
escuros de pólvora.
Queimei, incandesci,
desabrochei em primavera antecipada,
rubra flor carnívora,
expectante de ti.
Deste luz a este ser faminto dos teus afetos
e te foste,
irresponsavelmente desavisado,
as mãos nos bolsos, aos lábios,
uma melodia sibilante.
Me fiz em teus olhares,
deste forma ao meu corpo
na dança de tuas mãos,
moldaste-me ao teu gosto
e te foste!
A cria que iluminaste
com o fogo do teu desejo
consome-se,
devora a si mesma,
grita, urra sua dor
de amante órfã.
Por que te foste?
(Ilustração: Marie Laurencin)
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