sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

AMOR, de Irene Lisboa

 




Aqueles olhos aproximam-se e passam.

Perplexos, cheios de funda luz,

doces e acerados, dominam-me.

Quem os diria tão ousados?

Tão humildes e tão imperiosos,

tão obstinados!



Como estão próximos os nossos ombros!

Defrontam-se e furtam-se,

negam toda a sua coragem.

De vez em quando,

esta minha mão,

que é uma espada e não defende nada,

move-se na órbita daqueles olhos,

fere-lhes a rota curta,

Poderosa e plácida.



Amor, tão chão de Amor,

que sensível és...

Sensível e violento, apaixonado.

Tão carregado de desejos!



Acalmas e redobras

e de ti renasces a toda a hora.

Cordeiro que se encabrita e enfurece

e logo recai na branda impotência.



Canseira eterna!

Ou desespero, ou medo.

Fuga doida à posse, à dádiva.

Tanto bater de asas frementes,

tanto grito e pena perdida...

E as tréguas, amor cobarde?

Cada vez mais longe,

mais longe e apetecidas.

Ó amor, amor,

que faremos nós de ti

e tu de nós?



(Antologia Poética)



(Ilustração: Edvard Munch - the kiss - 1892)

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