1 Traitement héroïque ! user avec la langue,
2 Sans en rien rengainer qu’elle ne soit exsangue,
3 Après mille autres fous, les flancs de ce pilier !
4 Mais vers quoi ne courir, à quoi ne se plier,
5 Fasciné par l’espoir, palpable ou chimérique
6 (Espoir ! roi des leviers ! tout oncle d’Amérique
7 ((Ce pays jeune encore, inépuisé, béni,
8 — Si tard, de nos atlas, vierge il resta banni, —
9 Où l’on rafle plus d’or, vingt fois, qu’en l’ancien monde,
10 Soit que — l’appétissant a besoin de l’immonde —
11 Par cent mille kilos on fabrique un engrais
12 Pour ces champs infinis, où, gaillards, le nez frais
13 (((Un jour, d’un chien souffrant fait un chien hydrophobe ;
14 S’assurer que toujours ce liquide que gobe [165]
15 Même le mieux appris entre les nouveau-nés
16 Sort de l’ami de l’homme et lui vernit le nez
17 N’est pas, prenons-y garde, acte moins nécessaire
18 Que : — lorsque l’ennemi se fend d’un émissaire,
19 Sur les yeux de l’intrus appliquer un bandeau ;
20 — Quand passe un roi, marquer autour de son landau
21 Chaque point cardinal par un mouchard cycliste ;
22 — Quand, chef de conjurés, des noms on fait la liste,
23 Tout ce qu’on a d’esprit le mettre à la chiffrer ;
24 — Pour que l’oiseau pillard hésite à s’empiffrer,
25 Meubler d’épouvantails les terres où l’on sème ;
26 — Vieux ((((pendant notre hiver notre tignasse essaime,
27 Tels les rayons plantés dans le soleil vernal
28 S’en vont quand il se change en soleil hivernal ;)))),
29 S’imposer de fuir l’air ou de porter calotte ;
30 — Après avoir sombré de culotte en culotte,
31 Mettre en sûr viager l’argent sauvé du club ;
32 — Engager le verrou quand c’est l’heure du tub ;
33 — Avant de travailler sur une corde raide
34 S’armer d’un balancier ;))), cent chiens prêtent leur aide
Tradução de Luiza Neto Jorge:
Desgastar com a língua - heroico tratamento!
Pois só exangue estando a metem para dentro -
Como outros loucos mil, os flancos do pilar!
Mas como não correr, como se não vergar,
Fascinado pela esperança, evidente ou quimérica
('Sperança! alavanca-mor! todo o tio da América
((Esse jovem país, inda úbere e bendito,
- Virgem até tão tarde e dos atlas proscrito -
Onde oiro há aos milhões, mais que no velho mundo,
Quer porque - o apetitoso apela pelo imundo -
Aos cem mil quilos há quem fabrique um adubo
Par'esse campo infindo onde, focinho agudo,
(((Um cão doente fica hidrófobo num dia;
Ver se sempre esse líquido, que até a cria
Mais ensinada engole, sai do animalzinho
Do homem tão amigo, e lhe pule o focinho,
É acto, atentai bem, não menos necessário
Que: - quando o inimigo envia um emissário,
Nos olhos do intruso uma venda aplicar;
- Quando um rei passa, junto ao seu coche postar
Nos pontos cardiais um motociclista;
- Quando, em conspiração, nomes o chefe alista,
Quanto na mente houver, tudo averbar em cifra;
- Para o pássaro que pilha hesite e mais não esmifre,
A sementeira encher de espantalhos se faça;
- Velho ((((no nosso inverno a trunfa humana é escassa,
Tal o que semeado é ao sol estival
Se vai, quando ele no fim passa o sol invernal;)))),
Fugir de usar chapéu ou de se expor ao ar;
- Resguardar os tostões salvos do lupanar,
Ao fim de muito andar de cueca em cueca;
- Ir ao trinco e corrê-lo, à hora da soneca;
- Antes de em corda bamba exercitar-se, à mão
Um pênd'lo sempre ter;))), cem cães ajuda dão
(Novas Impressões de África; introdução e apensos de Manuel João Gomes; 1988)
(Ilustração: Hannah Höch)
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