a Álvaro Mutis
Cruzo la calle Marx, la calle Freud;
ando por una orilla de este siglo,
despacio, insomne, caviloso,
espía ad honorem de algún reino gótico,
recogiendo vocales caídas, pequeños guijarros
tatuados de rumor infinito.
La línea de Mondrian frente a mis ojos
va cortando la noche en sombras rectas
ahora que ya no cabe más soledad
en las paredes de vidrio.
Cruzo la calle Mao, la calle Stalin;
miro el instante donde muere un milenio
y otro despunta su terrestre dominio.
Mi siglo vertical y lleno de teorías...
Mi siglo con sus guerras, sus posguerras
y su tambor de Hitler allá lejos,
entre sangre y abismo.
Prosigo entre las piedras de los viejos suburbios
por un trago, por un poco de jazz,
contemplando los dioses que duermen disueltos
en el serrín de los bares,
mientras descifro sus nombres al paso
y sigo mi caminho.
Tradução de Wagner Mourão Brasil:
a Álvaro Mutis
[poeta colombiano]
Atravesso a rua Marx, a rua Freud;
ando por uma margem deste século,
devagar, insone, cismado,
espião ad honorem de algum reino gótico,
recolhendo vogais caídas, pequenos seixos
tatuados de rumor infindo.
A linha de Mondrian frente aos meus olhos
vai cortando a noite em sombras retilíneas
agora que já não cabe mais solidão
sobre as paredes de vidro.
Atravesso a rua Mao, a rua Stálin,
vejo o instante em que morre o milênio
e outro desponta em seu terrestre domínio.
Meu século vertical e pleno de teorias...
Meu século com suas guerras, seus pós-guerras
e seu tambor de Hitler ao longe,
entre sangue e abismo.
Prossigo por entre as pedras dos velhos subúrbios
por um trago, por um pouco de jazz,
contemplando os deuses que dormem desfeitos
sobre a serragem dos bares,
enquanto decifro seus nomes sem deter-me
e sigo o meu caminho.
(Ilustração: Piet Mondrian - Composition with Double Line and Yellow - 1932)
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