terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

LE VASE BRISÉ / O VASO PARTIDO, de Sully Prudhomme




Le vase où meurt cette verveine

D’un coup d’éventail fut fêlé ;

Le coup dut effleurer à peine :

Aucun bruit ne l’a révélé.



Mais la légère meurtrissure,

Mordant le cristal chaque jour,

D’une marche invisible et sûre

En a fait lentement le tour.



Son eau fraîche a fui goutte à goutte,

Le suc des fleurs s’est épuisé ;

Personne encore ne s’en doute ;

N’y touchez pas, il est brisé.



Souvent aussi la main qu’on aime,

Effleurant le coeur, le meurtrit ;

Puis le coeur se fend de lui-même,

La fleur de son amour périt ;



Toujours intact aux yeux du monde,

Il sent croître et pleurer tout bas

Sa blessure fine et profonde ;

Il est brisé, n’y touchez pas.




Tradução de Guilherme de Almeida:



O vaso azul destas verbenas,

Partiu-o um leque que o tocou:

Golpe sutil, roçou-o apenas

Pois nem um ruído revelou.



Mas a fenda persistente,

Mordendo-o sempre sem sinal,

Fez, firme e imperceptivelmente,

A volta toda do cristal.



A água fugiu calada e fria,

A seiva toda se esgotou;

Ninguém de nada desconfia,

Não toquem, não, que se quebrou.



Assim, a mão de alguém, roçando

Num coração, enche-o de dor,

E ele se vai, calmo, quebrando,

E morre a flor do seu amor;



Embora intacto ao olhar do mundo,

Sente, na sua solidão,

Crescer seu mal, fino e profundo,

Já se quebrou: não toquem, não.



(Stances et poèmes / Obras Primas da Poesia Universal)



(Ilustração: Carmen Tyrrell – sadness)




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