Textos, apenas textos, literários e poéticos, históricos e filosóficos, dramáticos e humorísticos; narrativos, descritivos ou dissertativos; de autores de todos os cantos do mundo...
terça-feira, 1 de outubro de 2019
SOLEDADE, de Pedro Xisto
Sobre a tarde me aplico. As sombras ou trabalho
como quem plumas colhe: as almofadas ponho
nos cantos vivos; toda a casa espera o sonho;
e a nuvem de alto mar é ninho no carvalho.
Mas, inda, Soledade, eu não sei do tristonho
carinho - último toque, a modo desse orvalho,
pelo vazio olhar de mármore que talho.
E, insone e vago, em vão a mim me recomponho:
Os braços abre o rio e se perde no estuário;
A despedida face, inclina o girassol;
Ao pé do mastro a vela hesita; o leme é vário;
e tão alheia a espuma; em névoas cego, o sol;
de longe cai o vento — o gratuito sudário.
(Sobre nós dois, que fria estendes teu lençol...)
(Ilustração: Odilon Redon, 1890)
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