sexta-feira, 13 de setembro de 2019

ELEGIA 1.9, Sexto Propércio





Dicebam tibi uenturos, irrisor, Amores,

….nec tibi perpetuo libera uerba fore:

ecce taces supplexque uenis ad iura puellae,

….et tibi nunc quaeuis imperat empta modo.

Non me Chaoniae uincant in Amore columbae (5)

….dicere, quos iuuenes quaeque puella domet.

Me dolor et lacrimae merito fecere peritum:

….atque utinam posito dicar Amore rudis!



Quid tibi nunc misero prodest graue dicere carmen

.…aut Amphioniae moenia flere lyrae? (10)

Plus in Amore ualet Mimnermi uersus Homero:

….carmina mansuetus lenia quaerit Amor.

I, quaeso, et tristis istos sepone libellos,

….et cane quod quaeuis nosse puella uelit!

Quid si non esset facilis tibi copia? Nunc tu (15)

….insanus medio flumine quaeris aquam.



Necdum etiam palles, uero nec tangeris igni:

….haec est uenturi prima fauilla mali.

Tum magis Armenias cupies accedere tigris

….et magis infernae uincula nosse rotae, (20)

quam pueri totiens arcum sentire medullis

….et nihil iratae posse negare tuae.

Nullus Amor cuiquam facilis ita praebuit alas,

….ut non alterna presserit ille manu.



Nec te decipiat, quod sit satis illa parata: (25)

….acrius illa subit, Pontice, si qua tua est;

quippe ubi non liceat uacuos seducere ocellos,

….nec uigilare alio limine cedat Amor.

Qui non ante patet, donec manus attigit ossa:

….quisquis es, assiduas a fuge blanditias! (30)

Illis et silices et possint cedere quercus,

….nedum tu possis, spiritus iste leuis.



Quare, si pudor est, quam primum errata fatere:

….dicere quo pereas saepe in Amore leuat.





Tradução de Guilherme Gontijo Flores:




Eu te disse, palhaço — Amores chegariam

….e não terias mais palavras livres.

Eis que te calas suplicante sob as leis

….dessa recém-comprada que te impera.

Como as pombas Caônias eu canto no Amor (5)

….que jovens cada moça amansará.

Pranto e dor me tornaram perito por mérito,

….mas antes sem o Amor eu fosse um leigo!



De que vale, infeliz, cantar solene agora

….chorando os muros que fizera Anfíon? (10)

No Amor melhor que Homero é um verso de Mimnermo:

….suaves cantos busca o manso Amor.

Vai, eu te peço, e larga esses tristes livrinhos

….e canta algo que a moça queira ouvir!

O que farás se te faltar assunto? Agora, (15)

….insano, em pleno rio pedes água.



Não estás pálido, não viste ainda o fogo:

….são só fagulhas do teu mal vindouro.

Então preferirás brincar com tigre Armênio

….e na roda infernal acorrentar-te (20)

do que sentir na espinha o arco do menino

….sem poder negar nada à moça irosa.

Nenhum Amor deu asas fáceis para alguém

….sem também o oprimir com a outra mão.



Não acredites se ela parecer disposta — (25)

….mais te consome, Pôntico, ao ser tua:

não poderás correr teus olhos livremente,

….o Amor não deixará que veles outra.

Não podemos senti-lo até que atinja os ossos:

….quem quer que sejas, foge das carícias! (30)

A elas cederiam pedras e carvalhos —

….e tu, sopro ligeiro, mais ainda.



Por fim, se tens pudor, confessa logo os erros:

….contar as dores alivia o Amor.



Notas:



O poema é clara continuidade de 1.7, após o intervalo de 1.8, de modo que os três formam um pequeno conjunto em que vemos as ameaças de Propércio ao gênero épico (1.7); seu próprio risco de falhar, mas resultando no sucesso de manter Cíntia (1.8), representando seus poderes como poeta elegíaco; e a derrota final de Pôntico, agora apaixonado por uma escrava, ou prostituta (1.9), incapaz de continuar sua carreira de poeta épico, mas também incapaz de iniciar uma poesia elegíaca, por já ser tarde demais. Vitorioso, Propércio inicia seu trabalho de magister amoris.

vv. 5-6: A Caônia era uma região do Epiro, mas a referência específica é a Dodona, onde havia um oráculo de Zeus, que se realizava por meio do auspício de pombas. Vale recordar que as sacerdotisas também recebiam o nome de pombas (columbae).

v. 4: Há duas leituras para modo empta, como notam Butler & Barber, que tentei manter quanto pude. Trata-se a) de uma escrava “recém-comprada”; ou b) de uma prostituta, que até então estava à venda.

v. 8: Anfíon é o bardo mítico que teria construído a muralha de Tebas apenas com o poder de sua lira, com a qual ele guiava as pedras. Em 1.7.2 (cf. nota), vimos que Pôntico escrevia uma Tebaida.

v. 11: Mimnermo é um poeta elegíaco grego arcaico, com temática amorosa e sobre a juventude. Aqui Propércio usa-o para fazer uma oposição fundamental entre elegia e épica, atestando a utilidade daquela sobre esta, bem como sua brevidade: mais valeria apenas um verso de Mimnermo do que toda a obra de Homero.

vv. 15-16: “Pedir água no meio do rio” é um provérbio grego muito citado pelos romanos como sinal de loucura, mas aqui também tem a conotação metafórica do rio caudaloso simbolizar a poesia épica.

v. 20: Ixíon fora preso por Júpiter a uma roda cercada de serpentes, sempre a rodar, no mundo dos mortos, porque tentara estuprar Juno.



(Poemas de Sexto Propércio, apresentação, tradução & notas de Guilherme Gontijo Flores)



(Ilustração: Peinture murale romaine - Scène érotique - Pompéi)



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