Sei do sonho:
procuro tua sombra na
penumbra
da memória líquida
e nada encontro.
A lua não é vermelha
não é violeta
não é verdecoisa
mas
os loucos da madrugada
anunciam as primeiras águas da manhã.
Sei do sonho?
Tua sombra pagã
é um corpo que me foge
das mãos cansadas de espantos
e abismos.
A árvore sonolenta
anoitece os meus delírios.
Não te vejo na claridade
do silêncio.
O sol é um pássaro ferido
na solidão
de meus gestos de meus gritos
e a hora cruviana
é uma graviola
grávida
de aromas e carnes
pronta para ser saboreada.
Sei.
Não foi um sonho.
Como encontrar,
então,
na
arquitetura fluvial
de meus quereres,
as linhas
e curvas
de teu corpo barrento-canela?
Ah, não! Ah, sim!
Existe
um
grande sertão
nas veredas da minha paixão.
E eu sei do sonho.
Procuro tua sombra líquida
e nada encontro.
A lua não é verdeluã
mas
tua sombra pagã
anoitece os meus delírios.
Como encontrar,
sol e solidão,
a arquitetura colonial
de teu corpo fluvial?
Como encontrar,
no silêncio de meus gritos,
tua sombra teus aromas tuas carnes?
Sim,
não.
Tua memória vermelha
é uma sombra grávida
de morenezas e reentrâncias
azuis.
Docemente azuis.
Barrentas e azuis.
(Qualquer tudo; 1993)
(Ilustração: foto de Elias Moraes)
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