Tantos e tantos caminhos
e os meus pés aqui parados
na negativa de andar.
Cansei a boca e o desejo,
Desenrolei pensamentos,
Pedi, pedi que seguissem
E eles ficaram imóveis,
Como rocha junto ao mar.
Há correntes invisíveis
Enroladas no meu corpo.
– Ninguém as pode partir! –
Fico parada às estradas,
Encho a cabeça de sonhos,
Atiro as mãos para frente
Mas nunca posso seguir.
Minha roupa às vezes toma
A forma exata de um barco
Que morre por navegar.
Mas – ai! De mim! – faltam remos,
A água vem, vai e volta,
Molha meus pés invisíveis
E as correntes não me deixam.
– Meu destino é renunciar. –
Os caminhos estão claros
E há um convite sem medidas...
– Ah! Partir minhas correntes! –
Prisioneira do meu corpo,
Sobem ondas de desejos,
Descem ondas de esperança –
Vai e vem soturno e triste
Como a água das vertentes!
Pode a vida fechar todos
os caminhos que me abriu.
Meus pés não querem andar.
Falei sempre inutilmente...
Minha boca é um traço triste
Que perdeu seu movimento
De pedir... sem alcançar...
(Céu vazio: poesia, 1941)
(Ilustração: Isabel Guerra)
Lindo poema
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