domingo, 2 de setembro de 2012

NO TRIBUNAL, de Carlos Nejar







Eu e o tribunal
 e sua fria mudez.
 O juiz no centro e no fim,
 o rosto girando em mim,
 farândola.
 Vim, com a escura coragem,
 de um réu antigo e selvagem.
 O que me prendeu,
 lutou comigo e venceu.
 Vacilava em me reter,
 mas eu que entregava,
 por saber que minha chaga
 estava exposta na lei.
 Giram as mãos
 e os pés atados. O juiz
 é um vulto que eu mesmo fiz
 com meus esboços. O juiz
 no centro, no fim,
 no tribunal onde vou,
 no tribunal donde vim.
 E  assim me condenei
 a permanecer aqui. 


(Ilustração:  Caravaggio - Davi e Golias)


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