Uma velha, amarelada fotografia de nosso time.
No primeiro plano vê-se a linha intrépida, ajoelhada sobre o joelho esquerdo,
prestes a erguer-se, uma vez batida a chapa, e atacar com fúria.
A defesa está atrás, de pé pelo Brasil.
Esse de gorro era nosso melhor elemento. Lembro que nesse jogo Nico foi expulso
de campo, injustamente, pelo juiz; mas não sem antes marcar dois goals.
Esse mais gordo era Roberto Vaca-Brava, nosso center-half, homem capaz de
jogar em qualquer posição. Até hoje me lembro do time, como da letra de uma
velha canção: Joca, Liberato e Zico; Tião, Roberto e Sossego; Baiano, eu,
Coriolano, Antonico e Fuad.
Era um onze imortal, como aliás se nota nessa fotografia, nessa chuvosa tarde,
antigamente heróica eternamente, em que empatamos, porém todos reconheceram que
foi nossa a vitória moral.
E olhando o retrato, olho especialmente o meu: um rapazinho feio, de ar doce e
violento, sobre quem disse o jornal: “o valoroso meia-direita” — e com toda
razão, modéstia à parte.
Esse alto, nosso quipa Joca Desidério, quando a linha fechava ele gritava para
os beques — sai tudo, sai da frente — e avançava na linha. E chorava de raiva
quando uma bola entrava. Mais tarde, por causa de um italiano, ele se fez
assassino, mas com toda razão, segundo me contaram. Alviverde camisa do
Esperança do Sul Futebol Clube, conhecido como os capetas verdes — somos nós!
Nós todos envergando essas cores sagradas; e no coração, dentro do peito, cada
um tinha uma namorada na bancada. Cada um, menos um: era Fuad, que não
interessava a ninguém, e morreu tuberculoso, sacrificado de tanto correr na
extrema, pelas cores do clube — glória eterna! Era esse aqui, de nariz grande,
esse turquinho feio.
(Ai de ti, Copacabana)
(Ilustração: Tim Lane - the soccer player)
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