sexta-feira, 14 de outubro de 2011

TUA MÃO EM MIM, de Marina Colasanti









Você me acorda no meio da noite

e eu que navegava tão distante

cravada a proa em espumas

desfraldados os sonhos

afloro de repente entre as paradas ondas dos lençóis

a boca ainda salgada mas já amarga

molhada a crina

encharcados os pelos

na maresia que do meu corpo escorre.

Cravam-se ao fundo os dedos do desejo.

A correnteza arrasta.

Só quando o primeiro sopro escapar

entre os lábios da manhã

levantarei âncora.

Mas será tarde demais.

O sol nascente terá trancado o porto

e estarei prisioneira da vigília.







(Ilustração: Aaron Coberly)

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