Joly foi amarrado ao meio-dia. Só olhos e sede. O pé de juazeiro era pouco para a impaciência e o silêncio. A tarde era castanha e corria em um abril sereno, desses sem nuvens e de brisa rasteira a balançar as saias.
Joly foi amarrado ao meio-dia. A menina se aproximou da corda e foi puxada bruscamente pelo pai. Sem entenderem nada, o encontro de quatro olhos aflitos, partido apenas por um leve grunhido e um suave balançar de rabo.
Joly foi amarrado ao meio-dia. Olhos vidrados, baba na boca. Não quis o pão embebido em leite, nem o almoço tirado da mesa e longe das sobras.
Joly foi executado ao meio-dia. Um pai uma única mão um único tiro misericórdia nos olhos. Duas cabeças dois corações. Um destino que parou. A menina não tinha palavras na boca e correu estrada afora. Tarde sem dentes, água entre as pernas e um latido encravado no ouvido.
A mulher parou no sinal ao meio-dia. Só olhos e cansaço. A sombra da alameda era pouca para a impaciência e o barulho. A tarde era castanha e corria em um abril apressado, cheio de nuvens e de um vento ligeiro.
A mulher parou no sinal ao meio-dia. O menino se aproximou do carro e puxou bruscamente a arma contra o vidro. Sem entenderem nada, se repete o encontro de quatro olhos aflitos, partido apenas pelo suave levantar do cão.
A mulher parou no sinal ao meio-dia. Estava com fome e na mesa posta pratos e filhos à sua espera.
A mulher foi executada ao meio-dia. Um menino duas mãos vários tiros uma bolsa. Duas cabeças dois corações dois destinos. O menino não tinha misericórdia nos olhos vidrados e correu rua afora sem amarras. Tarde sem dentes, baba na boca, água entre as pernas e um barulho de sirene no ouvido.
(Ilustração: Oswaldo Sagastegui)
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