terça-feira, 26 de julho de 2011

IDEALISMO, de Augusto dos Anjos







Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor na Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.


O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!

Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?!


Pois é mister que, para o amor sagrado,

O mundo fique imaterializado
— Alavanca desviada do seu fulcro —


E haja só amizade verdadeira

Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!



(Eu e outras poesias)




(Ilustração: Jeff Koons)



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